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A bizarra desconexão de Lula 

A agência AP – Associated Press, revelou em ampla reportagem investigativa publicada na última semana, o massacre criminoso de 600 refugiados ucranianos no teatro Mariupol, bombardeado pelas tropas russas comandadas por Vladimir Putin. Os ataques covardes contra civis, incluindo escolas e hospitais, além de outros crimes de guerra flagrados e investigados por cortes internacionais, seguem explícitos desde que a Rússia invadiu a Ucrânia – um país soberano, livre, dono do seu nariz -, com pretextos infundados como o de libertar os ucranianos “dos fascistas”, de frear o “genocídio” praticado por ucranianos nos territórios separatistas pró-Rússia, no leste do país e outras fantasiosas justificativas putinistas como a “desnazificação” e “desmilitarização” da Ucrânia. Porém, o que está posto, até mesmo para o mais comum dos observadores, por mais leigo que seja em geopolítica, é a intenção sub-reptícia de Vladimir Putin  em resgatar a zona de influência da caída União Soviética. Não importa o preço. 

No absurdo paralelo à revelação da AP sobre o massacre em Mariupol, criteriosamente fundamentada em testemunhos, entrevistas locais, vistorias de escombros e análises de imagens, surge uma fala estapafúrdia do ex-presidente Lula, condenado e preso pela Lava Jato por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, porém, com condenações anuladas pelo STF e posto em liberdade ato incontinente, apesar de a sentença ter sido confirmada por três instâncias e, uma delas, ter aumentado a pena de 9 para 12 anos, por unanimidade. Solto, Lula coloca-se no lugar de vítima, depreciando e chamando de bandidos os juízes que lhe condenaram, apropriando-se de uma inversão da realidade que rompe as fronteiras do seu caso particular e entra, de forma surreal, em todos os cenários político-sociais que se propõe analisar, como se em outra dimensão desse mundo estivesse. Condenar o presidente Volodymyr Zelensky pela invasão da Rússia contra a Ucrânia, é uma dessas. 

Antes mesmo de Putin invadir loucamente a Ucrânia, não faltaram rogos e clamor internacional, inclusive vindos da própria Ucrânia. Putin simplesmente ignorou. Não deu a menor bola, nem piscou. Invadiu e ponto. O saldo desse perverso capricho do autocrata russo não é cruel apenas para os ucranianos. Os russos, que em parcela significativa também se indignam com a invasão, lamentam e sentem a dor de perder pessoas queridas que partiram para guerra e não voltaram. Assim como os ucranianos, os russos todos os dias, desde que a guerra começou, enterram seus mortos. Calejados pelas mentiras, manipulações e desinformações típicas de governos autoritários e ditatoriais como o de Vladimir Putin, os povos do mundo inteiro – dentro e fora da Rússia – sabem que o número de mortos divulgados pelo governo russo está muito além das estatísticas oficiais.

Em fins de março, o Ministério de Defesa russo informou sobre perdas, registrando a morte de 1.351 militares. As Forças Armadas ucranianas acreditam em número muito maior que esse e falam em mais de 20 mil militares russos mortos. Esses números, porém, não puderam ser checados. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos estima cerca de 7 mil soldados russos mortos e pelo menos três vezes esse número de feridos. A Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, calcula que a Rússia já perdeu de 7 a 15 mil soldados. Os dados oficiais da Ucrânia, que também podem ser bem maiores do que os divulgados, apontam cerca de 3 mil soldados mortos e mais de 10 mil feridos desde o início da guerra.

O grande escândalo talvez não seja as falas-chocas e absurdamente fora da realidade de Lula. O grande escândalo, talvez, seja mesmo observar o séquito de pessoas teoricamente cientificadas, perceptivas, memoriadas, detentoras do conhecimento, do desenvolvimento real e plenas em suas funções cognitivas, se calarem, ignorarem, apoiarem e até aplaudirem dizendo “amém” a essa rajada de bobagens, distorções da verdade e flagrantes manipulações de fatos que o ex-presidente e, insolitamente, pré-candidato à presidência da República, anda proferindo por aí. Sustentado por uma rede bilionária de marketing pessoal-partidário-eleitoral, antecipada, diga-se, Lula dispara barbaridades dentro e fora do país. 

Uma das mais bizarras – no “mudus” internacional, sabe-se lá com quais resguardados milhões – foi essa de acusar   Zelensky, de querer e ser tão responsável pela guerra quanto Putin. Aqui, não resta dúvida: é o Lula parceiro, companheiro, solidário e amigueiro de regimes autoritários, tiranos, ditatoriais. Escorregando sorrateiramente para não deixar tão às claras a aprovação a favor da invasão da Ucrânia, como típico lhe é, ele alisa o ego já inflado de Putin, batendo em Zelensky com imputação descabida, transformando a vítima em algoz. E comete, referindo-se ao presidente da Ucrânia: “quis a guerra, porque se não quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais”. Para Lula, simples assim, como qualquer um dos seus fantasiosos discursos populistas, recheados de efeitos ensaiados para afetar o emocional das massas. Dessa vez, apostando numa grande repercussão por estar, de pose, na capa de uma das mais cobiçadas revista do planeta, a americana Time.

Estupros e execuções

E a repercussão veio mesmo. Como um tiro no pé. Porque as massas, hoje globalizadas, informadas e em constante ebulição – ao que parece Lula ainda não se deu conta disso -, não são mais tão indoutas ou suscetíveis a manipulações. Numa inversão da realidade, Lula, em suas declarações, patina no mesmo gelo russo-eufemístico de Putin quando impõe ao povo do seu país, sob risco de prisão, que chame de “operação militar especial” uma guerra que já matou milhares de soldados – russos e ucranianos – milhares de civis e expulsou das suas casas, segundo estimativa da ONU, nada menos que 10 milhões de ucranianos, agora desestabilizados, sem teto e refugiados em diversos países europeus. Os mortos também já são milhares. Diante das dificuldades e, principalmente, dos falsos números divulgados pela Rússia, a ONU levanta estimativas apontando, só do lado ucraniano, cerca de 3.800 civis mortos. Eu disse civis. Mortos, segundo relatos da ONU,  pelo uso de explosivo, projéteis lançados por artilharia pesada, sistemas de lançamento múltiplo de foguetes, mísseis e bombardeios aéreos. 

Esse número, segundo a chefe da Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos, Matilda Bogner, pode ser bem mais alto. A Missão investiga crimes de guerra como maus-tratos, torturas e execuções, dos dois lados. Mas adverte que a escala é significativamente maior do lado das forças russas. A comissária para Assuntos Internos, Ylva Johansson, revelou no parlamento europeu que a Rússia não está apenas travando uma guerra contra a Ucrânia, mas também contra as mulheres. Segundo ela, há relatos confiáveis de soldados russos estuprando mulheres e meninas, de 10 a 78 anos. ” Violar os corpos das mulheres para quebrar o espírito de um povo é um crime de guerra contra a humanidade”, indignou-se a comissária.

Mas, para Lula, em suas falas-rotas, isso não passa de um teatro encenado por Zelensky e o povo ucraniano. Deixando escapar aquela ponta de inveja por uma figura que lhe é contraditória, mas que vem sendo respeitado e aplaudido no mundo inteiro, pela perseverança e postura combativa em defesa da soberania do seu povo e do seu país, Lula critica o respeito que a comunidade internacional demonstra pelo presidente ucraniano, revelando sua visão tosca e rasteira: ” Você fica estimulando o cara – no caso Zelensky  – e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer “.

Ignorando toda e qualquer estratégia do presidente ucraniano para frear a insanidade da guerra, Lula segue cuspindo absurdos na Time, deixando o mundo em estado de perplexidade: ” O comportamento dele é um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha “. 

Essa visão chinfrim de Lula sobre Zelensky, o líder que vem mostrando força moral, tenacidade, coragem e resistência para enfrentar a louca invasão de Putin, não cabe no mesmo espaço ideológico-cerebral que ele abriga com relação ao presidente russo. Mas, mesmo sobre Putin, a avaliação geopolítica de Lula segue igualmente fajuta: “Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar! “, sugeriu durante a entrevista. Fica explícita aqui, e sem disfarce, a clássica preferência de Lula pelo ditador Putin, esse autocrata que, por sua vez, longe das comédias da vida, exibe um histórico político-curricular com gigantesca lista de maldades, atos tirânicos, antidemocráticos, opressivos, incluindo a suspeição de envenenar e assassinar desafetos e opositores.

E lá vai Lula, em sua arrogância personalista flagrantemente ultrapassada, cafona, mostrando por qual régua [cega] se mede, a despeito de todos os fatos que o mundo global exibe e reproduz: ” Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir com a paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra Putin. Isso não vai resolver”. Fingir ignorar o real motivo da invasão Rússia contra a Ucrânia, tentar emplacar um perfil democrático a Vladimir Putin, minimizar essa imensa tragédia, os crimes de guerra cometidos pelas tropas russas, os massacres e atrocidades, só para afinar o discurso a um pensamento ideológico atrasado e obsoleto, sempre na busca do eterno poder, é simplesmente o cúmulo do reacionarismo. 

Referindo-se a Putin, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, deixou recentemente um recado que Lula deveria tomar urgentemente para si. ” Quando um líder governa pelo medo, manipula eleições, prende críticos, amordaça os media, ouve apenas os bajuladores e, não há limites ao seu poder, é quando ele comete erros catastróficos”. #ficadica

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com | Publicada em: BAHIA ECONÔMICA | BAHIA JÁ | GAZETA DOS MUNICÍPIOS | DIGA BAHIA | NOTÍCIA CAPITAL

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CPI da Covid encerra ciclo sem tirar trave do olho

O respeito aos brasileiros e às mais de 600 mil vítimas da Covid-19 não pareceu exatamente claro ao longo dos trabalhos da CPI da Covid, já que seus condutores não se dispuseram a investigar e responsabilizar, de fato, todos os agentes públicos envolvidos em ilicitudes no decorrer da crise, seja de ordem civil ou criminal. Ao selecionar alvos e blindar parceiros, a Comissão Parlamentar de Inquérito conseguiu descredibilizar os resultados do que poderia ter sido um dos mais importantes instrumentos de esclarecimento e responsabilização por essa tragédia que abala o país. 

Raivosa, seletiva, opinativa e instalada para fins meramente políticos e nem de longe para fazer justiça ao povo brasileiro, a chamada CPI da Covid queria, de última hora, ser também apelativa, como se satisfeita não estivesse com a sua performance tendenciosa. Ensaiando usar o nome e a imagem do humorista Paulo Gustavo (uma das vítimas do vírus no Brasil) para encerrar o circo de horrores e desfaçatez em que se tornou, a CPI conduzida seletivamente por Omar Aziz (PSD-AM) e pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL)  –  parlamentares investigados por crimes de corrupção -, trombou de frente com a decência e a sensatez da mãe do ator, Déa Lucia, convidada para protagonizar a farsa do pseudo lamento pelas famílias enlutadas: ” Só se eu fosse louca”, disparou com a maior coerência. 


” Não vou participar de jeito nenhum. Essa CPI virou uma CPI política, comandada por Renan Calheiros e Omar Aziz. Você acha que é séria e que vai dar em alguma coisa? Já estão em ano eleitoral. Não vou me prestar a isso. Vou fazer meus discursos no momento certo, nas minhas redes. Me meter com política eu não vou”, disse Déa Lúcia em entrevista ao jornal O Globo, com a sabedoria dos que não se deixam ludibriar pela falácia política daqueles que querem apenas se dar bem, atacar coleguinhas e golpear adversários que se coloquem no caminhos dos seus propósitos de poder.


A tal cerimônia de encerramento marcada para o dia 19 de outubro foi cancelada no último sábado, 9, provavelmente graças à sensatez de dona Déa Lúcia, que não se deixou enredar pelos reais objetivos da cúpula da comissão. Segundo informações divulgadas pela imprensa, a atriz Glória Menezes, abalada pela perda recente do companheiro Tarcísio Meira, ator morto pela Covid, também teria sido convidada e recusou-se a participar da cena. O evento pretendia enveredar pelo caminho da comoção utilizando emblematicamente a morte dos artistas, como se o país inteiro já não soubesse o quanto a gestão dessa pandemia foi conduzida de forma aviltosa e irresponsável, não apenas pelo governo federal, mas também por gestores públicos corruptos – governadores, prefeitos e outros agentes –  que desviaram e corromperam recursos destinados à crise sanitária. Fatos que a CPI da Covid simplesmente preferiu ignorar.

Ações fraudulentas envolvendo a compra de respiradores e EPIs de combate ao vírus causaram a morte de milhares de brasileiros durante a pandemia. Mas a comissão instalada justamente para apurar responsabilidades pelas mortes, nesse caso específico, recusou-se a fazer. Ora, depois de ter blindado e protegido infratores e tornado irrelevantes denúncias dessa gravidade, a mesma CPI, que nasceu com alvos e propósitos bem definindos, tem o desplante de querer prestar homenagem às famílias dos mortos. Que nome vamos dar a isso? Sordidez? Calhordice?


Como ponderou Déa Lúcia, o chamado Centrão não esboçou qualquer coragem para seguir adiante com os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Mas os atores da CPI querem usar dores civis para encenar seus espetáculos e receber aplausos. ” Vou me meter nesse ninho de gato? Nunca me meti, não vou me meter agora. (…) Se surgir uma terceira via, se aparecer, vou para as redes sociais. Mas bater palma para Renan Calheiros? Só se eu fosse muito louca. Só se fosse para o Paulo Gustavo ressuscitar e dizer: “Mãe, vou dar na sua cara”…


Não será dessa vez, ainda bem, que a imagem de uma das 601 mil vítimas da Covid-19 – mortes causadas não apenas por fatalidade mas sobretudo por negligência e irresponsabilidades administrativas -, será usada para resgatar o brilho de estrelas apagadas, as mesmas que se esmeram com mil artifícios e artimanhas para permanecerem existindo em seus cosmos de poder.  Não será dessa vez, enfim, que a dor de muitos servirá para lustrar a visibilidade de parlamentares envolvidos em escândalos, como é bem o caso do senador Aziz, investigado junto a familiares pela suspeição de desvios e fraudes com recursos – pasmem pela ironia – da Secretaria de Saúde no Amazonas, estado  que governou entre 2010 e 2014. Os danos causados aos cofres públicos foram estimados pelo Ministério Público em cerca de R$ 100 milhões. Aziz se declara inocente.


No mesmo holofote nacional dos escândalos se encontra Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, de quem partiu o convite para a mãe do ator Paulo Gustavo. O senador tem mais de 25 processos rolando no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao longo da sua “brilhante” carreira política, Calheiros acumula inquéritos por crime contra a honra e corrupção, em operações como a Lava Jato, Zelotes e Postalis. Sem falar que o filho do senador, Renan Filho, governador de Alagoas pelo MDB, é investigado pelo MP local justamente pelos gastos no combate à pandemia. Pai e filho se dizem inocentes.
Corruptos se declarando inocentes e injustiçados é o que não falta nesse país. Mas inocente e injustiçada, porém, é sem dúvida a população brasileira que viu familiares e amigos partirem de forma tão trágica quando o pior poderia ter sido evitado

. Uma CPI que enxerga o argueiro no olho do outro, mas recusa-se a tirar a trave do próprio olhar ao proteger parceiros e utilizar em interesse próprio, ou de grupos afins, um instrumento democrático, legítimo e benéfico para a sociedade, com certeza perdeu o tom, o real escopo e não merece crédito. As denúncias de irregularidades nos estados com os recursos que salvariam milhares de vidas nessa pandemia, nem por sonho deveriam ter sido ignoradas pela CPI.
A Polícia Federal e o Ministério Público identificaram fraudes em pelo menos 19 estados e no Distrito Federal, 7 deles  investigados por gravíssimas denúncias de desvios de recursos destinados à pandemia. Estima-se que mais da metade do dinheiro endereçado à crise sanitária foi parar ilegalmente no cofre de alguém. Segundo levantamento da Revista Veja, em setembro de 2020, os desvios já somavam mais de R$ 4 bilhões. Absolutamente ignoradas pela CPI da Covid, essas investigações continuam em andamento praticamente em todos os estados da federação.

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Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantna@hotmail.om | Texto publicado originalmente nos sites: BAHIA ECONÔMICA | BAHIA JÁ | GAZETA BAHIA | MUITA INFORMAÇÃO | DIGA BAHIA

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Brasil sem planos de reconstrução pós-pandemia

Na onda da reconstrução pós-pandemia, o Brasil tá lascado!

Enquanto os países mundo afora se empenham em traçar planos estratégicos de investimentos, de reformas para restaurar suas economias e sedimentar novos caminhos de proteção e de desenvolvimento, mantendo o vetor inteligentemente apontado para a fase pós-pandemia e a visão aguçada em um novo mundo, o Brasil continua a patinar e a se perder em discussões bizantinas, infrutíferas polarizações pseudo-idológicas e em queimar esforços com convenientes projetos políticos, cujo fim não parece outro senão o de demarcar domínios, fortalecer grupos de interesses comuns e legitimar velhas e nefastas práticas para ampliar e perpetuar poder.
Com um saldo assombroso de mais de 570 mil mortos, 20,4 milhões de infectados e um rastro de estragos deixados em todos os setores da economia pela Covid-19, o país amarga as dolorosas consequências da irresponsável gestão da crise sanitária capitaneada pelo governo Jair Bolsonaro. Mas não só isso. Amarga também o absoluto descompasso com os planos e as estratégias de investimentos que o mundo vem adotando para recuperar suas forças econômicas, sair da zona de risco, avançar no desenvolvimento sustentável, modernizar infraestruturas e preparar caminhos para o futuro das novas gerações. Os países da União Europeia, por exemplo, estão debruçados com seus especialistas e autoridades traçando planos de reconstrução e resiliência, com missões voltadas para a inovação, competitividade, sistema produtivo, revolução ecológica, equidade social, educação, saúde, cultura, pesquisa e mobilidade sustentável.


Num esforço coletivo e com o olhar apontado para o futuro, esses países se articulam para arrecadar recursos e desenhar um plano de recuperação maciço, envolvendo, pelo menos até 2026, a ambiciosa soma de 750 bilhões de euros.  Dos 27 países membros da UE, 23 já trataram de engavatar seus embates improdutivos para focar e concentrar energias em seus planos nacionais de investimentos e reformas. A Itália e a Espanha por exemplo, dois países atingidos brutalmente pela pandemia, assim como o Brasil, não perderam tempo com discussões improdutivas sobre o sexo dos anjos. Simplesmente arregaçaram as mangas para trabalhar naquilo que realmente importa: o Plano de Recuperação e Resiliência (PNRR) que vai possibilitar novos investimentos e a reanimação de suas economias na fase pós-pandemia.
Com seus projetos de investimentos já aprovados pela Comissão da UE, Itália e Espanha vão levar para
casa 191,5 e 140 bilhões de euros, respectivamente. Recursos conquistados com planejamento endereçado para a infraestrutura, programas sociais e a iminente transição ecológica e digital. A França, que também já elaborou e apresentou seu plano, garantiu cerca de 100 bilhões de euros para a sua recuperação. 
E o Brasil? Falando num bom português viralizado pelo economista Gilberto Nogueira, o empático personagem do reality show BBB e mais conhecido como Gil do Vigor: ” O Brasil tá lascado”. Enquanto o mundo se prepara para vencer seus males e dores de forma pragmática e estratégica, o Brasil  vai mostrando por aqui toda a sua imaturidade administrativa e institucional. Na guerra travada hoje entre os poderes, Executivo, Judiciário e Legislativo, não tem nenhum soldado inocente. Todo mundo que entrou nessa briga é vilão. O desrespeito é mútuo e todos se atacam sob o pretexto de defender a democracia. Tem gente usando o nome da democracia em vão.
As farpas, ameaças e setas atiradas em todas as direções são tão graves quanto a bagunca de prerrogativas constitucionais, onde cada qual se julga com poderes e direito para fazer o que bem quer, interpretar da forma que quiser, inventar cenários teóricos e hermenêuticos que bem entender. Tudo para justificar ou anular decisões judiciais, invadir atribuições alheias, julgar e legislar em causa própria, alterar leis que persigam desafetos ou protejam a si e as suas confrarias, além de ignorar abertamenta liturgias, regras e preceitos carimbados na Constituição Federal. Esse é o quadro.

Numa absoluta inversão de prioridades, pertinências e uma supervalorização de egos, arrogância, prepotência política e judicial, o Brasil vai encenando uma história de puro terror, com discussões inócuas e retrógradas, no lugar de debates importantíssimos para a retomada do crescimento, dos investimentos, da recuperação da economia e das reformas estruturais, tão essenciais para a modernização, projeção de cenários futuros e garantia de resistência nos processos de desenvolvimento do país. O que se vê por aqui? Ao invés de instituições harmoniosamente empenhadas em desenhar um plano de reconstrução para o Brasil pós-Covid, com uma agenda propositiva voltada para a retomada da confiança de parceiros comerciais e futuros investidores, o que se vê é um país inteiro perplexo, uma comunidade internacional boquiaberta, deparando-se dia após dia com a queda de braço e o pavoroso bate-boca entre os excelentíssimos poderes constitucionais. 

Tanques, retrocessos e coações


A grande mídia, com interessada eficiência, dá amplo destaque a esses embates contraproducentes e raramente se preocupa em cobrar categoricamente debates com pautas produtivas para o país. Ao contrário, legitima e valoriza de forma irresponsável a relevância de discussões puramente polêmicas, que disvirtuam o foco do que de fato é importante. Vale tudo nessa guerra armada para desestabilizar adversários, mas travestida cinicamente por todos os oponentes em luta pela defesa da democracia. Qual democracia caras pálidas?
Em nome dessa suposta democracia os poderes se engalfinham, se atacam e se ameçam. Legislativo busca impeachmar Executivo, que quer impeachimar Supremo, que acusa o Executivo e bate o martelo com decisões que lhe contrariam e desafiam. Com direito a constrangedor desfile de tanques blindados na Praça dos Três Poderes, xingamentos, mandados de prisões, quebras de sigilos legalmente controversos – sem a tal “observância do devido processo legal” que, aliás, só vale para uma turma e para outra não -, além de censuras prévias, ordem de desmonetização de canais antagônicos e flagrantes ataques à liberdade da expressão e opinião. Atos ditatoriais que ferem a Constituição, indignam o Estado Democrático de Direito, porém justificados por todos como: “em defesa da democracia”. 
O espectro do retrocesso que paira sobre o país não ronda apenas em torno da insólita discussão sobre o voto impresso X urnas eletrônicas. Perpassa também por decisões inconcebíveis como as que desmantelaram a mais consistente força de combate à corrupção, a Lava Jato, permitindo o retorno à cena política de personagens investigados e condenados por corrupção, formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. O exemplo mais emblemático é o do ex- presidente, ex-condenado, ex-preso e ex-corrupto Luís Inácio da Silva, o Lula, que hoje rodopia livremente pelo país fazendo campanha antecipada à presidência da República. Sem ser incomodado.
Ironicamente, os retrocessos avançam. Tem a volta das coligações partidárias, uma aberração enterrada em 2017 – há tão pouco tempo – e desencavada na última terça-feira, 17, pela Câmara dos Deputados, naturalmente com o intuito de salvar o establishment político nas eleições de 2022. Se aprovada pelo Senado, volta à cena os chamados “partidos de aluguel”,  sem representatividade, sem ideologias, sem propostas, prontinhos para barganhar tempo de propaganda eleitoral e tilintar seus cofres com o dinheiro público. São os senhores deputados legislando placidamente por seus interesses, como bem comprova o titânico fundo eleitoral que aprovaram dentro da LDO para 2022: nada menos que R$ 5,7 bilhões, o triplo do valor destinados às campanhas de 2018. Algo imperdoável para uma nação que vive num momento de pandemia, fragilidade jurídica e institucional. Bolsonaro disse que “pode vetar” , mas só um poquinho: vai baixar o valor do fundo de R$ 5 para R$ 4 bilhões. E até vai querer que a população agradeça.
A tal preocupação com o povo brasileiro e com a democracia, entra em rota de suspeição quando se observa também o desenrolar da CPI da Pandemia no Senado, cujo objeto de investigação, que deveria apurar responsabilidades dos governos federal e estaduais no enfrentamento à crise do coronavirus – escopo mais que necessário, pertinente, legal e louvável, diga-se – , enveredou por caminhos tortuosos, adotando posicionamentos claramente parciais, seletivos,  principalmente por parte de membros do comando da comissão que, na verdade, nem deveriam estar ali por serem parlamentares investigados, inclusive por corrupção na área da saúde. Um contrassenso que só poderia resultar em abuso de poder e cenas de intimidação, coação, humilhação, julgamento e ordem de prisão a depoentes. Um vexame!
Afinal, qual a importância do povo brasileiro nesse contexto disfuncional? Se as instituições não se complementam, não se respeitam, não se fiscalizam, não limitam atribuições e prerrogativas, não levam em conta os anseios, a segurança e a participação da sociedade civil nas decisões que tomam, como acham que são guardiães do Estado Democrático de Direito, gestores do bom funcionamento da máquina pública, asseguradores dos direitos civis e sociais dos cidadãos, os mesmos que os mantêm nas cadeiras que ocupam? Nem precisa ser especalista para concluir onde a corda desse cabo de guerra vai partir, a persistirem os atos insanos desses protagonistas que encenam o poder. Se nada se renovar e a corda partir, parafraseando o profeta Gil do Vigor, a Democracia tá lascada!

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com | PUBLICADO EM : BAHIA ECONÔMICA | BAHIA JÁ | GAZETA BAHIA | MUITA iNFORMAÇÃO | DIGA BAHIA

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A imoral vingança da corrupção

“No Brasil, a corrupção não quer apenas impunidade, quer vingança”                                                                                                                                             Ministro do STF, Luís Alberto Barroso

Na calada da pandemia, o torto e o capenga, quando não estão beligerando, se unem com o propósito de fortalecer ofensivas e manterem-se de pé. E o povo brasileiro, na busca ansiosa por estratégias e informações confiáveis que lhe ajude a sobreviver e a driblar os riscos de um vírus letal que já matou mais de 400 mil pessoas no país – número estarrecedor – nem sempre percebe o insidioso mundo paralelo que vem sendo construído nos bastidores do poder. É justamente nessa confusa troca de acusações, mentiras, meias verdades, conchavos e restrições que dificultam a mobilização e manifestações contrárias, que os cavilosos projetos de permanência, domínio, interesses e blindagem, encontram facilidades para gestar e parir seus aberrantes filhos. 

A “deixa” largada pelo ministro Ricardo Salles, deu asas às mais subreptícias imaginações e aos mais vorazes apetites no plantio de velhacas articulações e conchavos entre poderes. A ideia agora é passar a ” boiada TODA” enquanto as atenções estão voltadas para a Covid-19, seus males, suas farpas, seus mortos, seus confrontos e invenções. Tudo capitalizado grotescamente para o ringue eleitoral de 2022, de onde, acreditam, sairá um vencedor – seja o torto ou o capenga –  garantindo, de preferência, o status quo de uma classe viciada em velhas práticas, obcecada em perpetuar-se no poder e disposta a derrubar, no trator, as ações de combate à corrupção e à impunidade. Naturalmente utilizando-se de manobras e aprovação de leis que reduzam, cancelem, espaventem e até impossibilitem futuras investigações. 

Na  verdade, um circo armado com dois palcos, encurralados por cercadinhos, estrategicamente fincados para impedir o êxodo da massa em direção a outros palcos alternativos, fechando a acústica em narrativas ensaiadas que indicam apenas o caminho da polarização, sem qualquer chances para uma possível  terceira via. Um erro de prognóstico? Não. Um golpe mesmo.  

A chamada PEC da Vingança é o mais recente instrumento que vem sendo engendrado, no Congresso Nacional, com o claro objetivo de intimidar procuradores da República e promotores da Justiça. Com tramitação acelerada, a PEC 5/2001 teve sua admissibilidade aprovada nesta terça-feira, 4, pela CCJ – Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e deve ir a plenário para votação, tão logo seja analisada por comissão especial. A proposta prevê o aumento de representantes do Congresso, no Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP; permite que ministros do Supremo e do STJ integrem o órgão como ministros e juízes e, pasmem, diminui o número de cadeiras indicadas pelo próprio MP, num Conselho que é de sua prerrogativa. E mais grave ainda: A PEC quer assegurar que o Corregedor do Conselho não seja necessariamente um integrante do Ministério Público. 

Trocando em miúdos: uma manobra clara para reduzir e fragilizar a autonomia do CNMP, dando maioria a representantes de órgãos externos que poderão intimidar e punir procuradores e promotores que estejam atuando em investigações envolvendo poderosos e políticos influentes. Se o Conselho, com a influência dos parlamentares que já sentam em suas cadeiras promove inéditas punições de censuras, a exemplo da que ocorreu com o ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, a pedido do senador Renan Calheiros, em 2019, imagine com um maior número deles ocupando mais assentos. O anômalo é perceber como as matizes ideológicas, tão díspares e ferrenhas entre si, se misturam num amálgama perfeito de narrativas, gestos e intenções, quando se trata de buscar “harmoniosamente” a defesa de interesses comuns que, diga-se de passagem, passam ao largo dos interesses da sociedade. 

A PEC da “vingança” foi apresentada pelo deputado Paulo Teixeira, petista de São Paulo e um dos mais ácidos críticos ao trabalho do MP e da Lava Jato. Porém, vem sendo “ninada” carinhosamente por pares de todas as cores e acolhida com esmero pela  bolsonarista e presidente da CCJ na Câmara, Bia Kicis, do PSL de Brasília. Além do PT e do PSL, posicionam-se a favor da PEC os partidos PL, PP, PCdoB, Avante, PSD, Republicanos, PDT e, quem diria, o DEM, que inicialmente fazia obstrução à proposta mas virou a casaca e orientou seus pares a votarem favoravelmente. Todos juntos e misturados naquele empenho descrito pelo ministro do STF, Luis Roberto Barroso, quando defendeu o legado da Lava Jato no julgamento sobre a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e alertou sobre a infame sede dos poderosos, não apenas pela impunidade, mas por vingança contra juízes e procuradores que os investigam. 

Esse ânimo de “vingança maligna” contra os defensores, ações e operações de combate à corrupção chegou a galope, pisoteando sentimentos de justiça e de esperança do povo brasileiro em viver num país mais digno, sem impunidade e com os cofres públicos a salvos de esquemas montados para pilhar o país e desviar os recursos destinados à saúde, à educação, à infraestrutura e outras áreas essenciais à qualidade de vida da população. 

 Os sinais de que os adeptos de malfeitos espalhados nas variadas esferas de poder não ficariam inertes e exangues diante da maior e mais relevante operação contra a corrupção no mundo, a Lava Jato, chegaram sorrateiramente mostrando garras semelhantes às que abateram a Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), na Itália. Uma pedra que vinha sendo cantada não apenas pelos procuradores e juízes da força-tarefa, mas também por reconhecidos jornalistas, estudiosos da política, entidades e organismos jurídicos brasileiros e internacionais.   

Enquanto a Operação Lava Jato trabalhava duramente para estancar a sangria dos cofres do país e trazia de volta para o erário cerca de R$ 5 bilhões saqueados pela poderosa organização criminosa que assombrou o mundo (não só pelas práticas mas pelo volume de dinheiro roubado, uma bagatela estimada em R$ 42,8 bilhões, segundo dados da Polícia Federal ), nos bastidores do poder a batalha era outra. A luta era diametralmente oposta. Ali, buscava-se encontrar instrumentos que barrassem o avanço das investigações, preferencialmente travestidos de legalidade.  

Por isso, em 2019, aprovou-se no Congresso a famigerada Lei de Abuso de Autoridade, um perigoso chicote em mãos de investigados e réus, convenientemente preparado para açoitar seus investigadores e juízes.  Segundo especialistas em Direito,  a Lei é um atentado contra o Estado Democrático de Direito, fere a autonomia e a independência do Poder Judiciário e serve como arma para inibir agentes públicos na sua função de investigar, principalmente nas ações de combate à corrupção, já que a ideia é criminalizar condutas ligadas à Operação Lava Jato. 

O controverso Pacote Anticrime proposto pelo então ministro Sérgio Moro, foi outra ferramenta manipulada com esse fim e aprovada de forma desfigurada. Várias matérias publicadas no período apontaram uma desidratação em cerca de 30% do texto original. Foram 11 pontos retirados da proposta de Moro, a exemplo da execução da prisão após condenação em segunda instância, e incluídos outros que limitaram acordos de delação premiada e da prisão preventiva, considerados importantes instrumentos nas investigações contra a corrupção. Ainda assim, o projeto foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro sem os vetos sugeridos pelo então ministro, o que mostrou a sua incoerência entre o discurso de campanha e a prática de gestão, além de, claro, a intenção de proteger o filho Flávio Bolsonaro, parlamentar sob investigação. 

Retrocesso que assombra o mundo

O retrocesso nas conquistas contra a corrupção garantidas nos últimos seis anos pela Operação Lava, lamentavelmente deu marcha ré em mais de 30 anos, fazendo escorrer pelo ralo o extraordinário trabalho que revelou ao mundo um “quadro impressionante” de corrupção estrutural, sistêmica e institucionalizada no Brasil, como tão bem destacou o ministro Barroso, no plenário do STF. Aliás, uma das poucas vozes do supremo a tentar acender a luz da razão na Corte, ao lado do ministro Edson Fachin que, apesar de ser rendido na decisão de anular as condenação do ex-presidente Lula – réu condenado nesses processos a penas somadas em mais de 26 anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro -,  sempre foi um entusiasta da Lava Jato e da sua importância no combate à corrupção. São vozes que ecoam no deserto da insensatez de uma robusta irmandade, empenhada em barrar o avanço da luta contra o assalto aos cofres públicos, envolvendo poderosos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.  

Nesse contrassenso, o STF vai assumindo um papel preponderante, alarmando não apenas a nação brasileira como também a comunidade internacional. Depois de derrubar a condenação em segunda instância, em 2019, o Supremo seguiu seu curso anulando condenações da Lava Jato, trazendo de volta réus condenados para o cenário político e colocando sob suspeição a atuação de promotores e juízes da força-tarefa Lava Jato. Mesmo, estando os processos abarrotados de provas e revisados por três instâncias do Judiciário. Entre as decisões do STF que mais estarreceram a Transparência Internacional e a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico – OCDE, o chamado clube dos países ricos, está a que limitou o uso nas investigações de informações obtidas pelo COAF, órgão essencial para o cruzamento de dados que auxiliam na luta contra a lavagem de dinheiro. 

A decisão martelada pelo presidente do supremo, Dias Toffoli e que beneficiava claramente o filho do presidente, Flávio Bolsonaro e outros parlamentares investigados, repercutiu severamente e acabou sendo revogada no plenário da corte. Os fatos que indicavam  flagrante retrocesso na luta contra a corrupção no Brasil, preocuparam o mundo e impulsionaram a vinda ao país de uma missão da OCDE, em novembro de 2019. No final da visita, o grupo de trabalho contra as propinas da organização divulgou um comunicado curto e grosso: “Estamos alarmados pelo fato de que tudo o que o Brasil conquistou nos últimos anos na luta contra a corrupção possa agora estar seriamente comprometido. O Brasil deveria reforçar os mecanismos anticorrupção, não os enfraquecer”. 

É uma pena que a missão da OCDE não tenha passado por aqui nesse 2021. Se ficou alarmada em 2019, ficaria estarrecida agora. Na esteira da decisão do STF de anular as condenações de Lula e torná-lo livre e elegível para cometer novos atos – sem o menor respeito, diga-se,  ao trabalho executado pela Lava Jato, ao povo brasileiro, suas lutas, avanços e conquistas contra os crimes de colarinho branco -, o STF foi muito além na contribuição a favor da impunidade e dos crimes de corrupção. Animados, os réus condenados da Lava Jato “pegaram ar” e já acionaram seus prepostos para, casuisticamente, utilizarem os mesmos recursos jurídicos que salvaram Lula. Réus com históricos escabrosos de formação de quadrilha e desvio de dinheiro público, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o ex-deputado Eduardo Cunha e o famoso braço direito de Lula e ex-ministro José Dirceu,  já estão com as mãos na cancela. A ideia agora é escancarar e “passar a boiada TODA”. 

Um bom exemplo do que será essa involução é a decisão carimbada na última quarta-feira, 5, pelo juiz da 12ª Vara do Distrito Federal, Marcus Vinícius Reis Bastos. O magistrado, o mesmo que em 2019 absolveu Lula, Dilma, Palocci, Mantega e Edinho Silva, no chamado “quadrilhão do PT”, absolveu também agora Michel Temer, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Rocha Loures, Henrique Alves, Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima, no chamado “quadrilhão do PMDB”. Reis Bastos não enxergou quadrilhão nenhum. Nem do PT, nem do MDB. Todos muito inocentes. Com certeza, oportunamente cego, o juiz nem viu as malas com os 51 milhões num bunker que Geddel Vieira mantinha em Salvador, indício claro de corrupção. O que ele viu foi mesmo o “abuso de direito de acusar”, acusação essa que contribui, na sua argumentação,  para criminalizar a atividade política. Na visão do magistrado, pelo visto, o crime de propina e corrupção dentro da “atividade política”, não é abuso algum. Ao contrário, compensa. 

Por tudo isso e outros declínios, não é à toa que o Brasil se posiciona tão desastradamente no ranking mundial de corrupção, divulgado anualmente pela Transparência Internacional. O Índice de Percepção de Corrupção-IPC avalia 180 países e territórios, atribuindo a eles notas de zero (altamente corrupto) a 100 (muito íntegro). Em 2020, o Brasil registrou 38 pontos, ficando na 94ª posição, exibindo a mesma pontuação de países como a Etiópia, Cazaquistão, Peru, Sérvia, Siri Lanka, Suriname e Tanzânia. E bem longe dos países que lideram o ranking com 88 pontos, como Dinamarca e Nova Zelândia, considerados altamente íntegros. Nesse naipe estãi ainda a Finlândia, Suécia, Suíça, Noruega, Alemanha e Luxemburgo, enquanto o Brasil, não cansa de passar vergonha.

A continuar sua marcha retrógrada a favor da impunidade e dos corruptos poderosos, sem nada que lhe barre o caminho, a trupe da vingança, fechada em sua influente confraria, conseguirá transformar definitivamente o Brasil no país da vergonha, da indignação, passando de nação promissora à nação empobrecida, amarga, sem credibilidade e posando muito mal na fotografia do mundo. 

Por Samuelita Santana | COLUNA VISUALIDADES | @samuelitasantana | Texto publicados nos Portais de Notícias | BAHIA ECONÔMICA | BAHIA JÁ | GAZETA DOS MUNICÍPIOS | DIGA BAHIA

Destaque

O desafio para o Bolshoi Brasil dançar brasileiro

    “Falta quebrar barreiras. A barreira do biotipo, da cor da pele. Quando tive consciência de que com minha arte posso me expressar com meu corpo e me aceitar do jeito que sou, caiu a ficha: Eu nasci para isso”. Ingrid Silva, bailarina brasileira da Cia Dance Theatre of Harlem, de Nova York. 

Única extensão no mundo fora de Moscou o Bolshoi Brasil, instalado na cidade de Joinville (SC), é notoriamente reconhecido pelo belo trabalho que promove na formação de artistas cidadãos através da arte-educação. Nos últimos dois anos, tive a oportunidade de acompanhar mais de perto o processo que a escola realiza anualmente para selecionar crianças e jovens bailarinos que vão receber, por 8 anos, formação gratuita em dança e disciplinas complementares. Diante disso, faço aqui uma ponderação com um olhar construtivo: o Bolshoi Brasil precisa sair da caixinha russa e despertar par a sua identidade brasileira.   

Todo ano, milhares de sonhadores da dança se lançam nessa empreitada de conquistar uma das 40 vagas oferecidas pela instituição, com recordes de mais de 6 mil inscrições nas pré-seletivas realizadas no país inteiro. Um funil, na minha visão de observadora, muito mais subjetivo que efetivo quando se pensa nos critérios, no sentido e no propósito de descobrir, formar e revelar talentos do Brasil. 

Ingrid Silva, bailarina brasileira da Cia Dance Theatre of Harlem, de Nova York

Criado em março de 2000 com o apoio da prefeitura de Joinville e governo de Santa Catarina, há 21 anos portanto, o Bolshoi Brasil, em que pese o excelente trabalho social de inclusão de crianças e jovens de baixa renda que promove, parece manter o olhar languidamente voltado para os ares gelados de Moscou. No entanto, as revoluções e evoluções ocorrem o tempo todo e por mais geniais que sejam ou tenham sido os métodos e descobertas na área da dança, elas fatalmente se renovarão em direção ao aperfeiçoamento trazido pelos novos tempos.   

As audições que selecionam os bailarinos a serem beneficiados com a formação prestada pela escola, seguem ano após ano restringindo o perfil e a identidade de bailarinos. Enquanto percebe-se claramente uma busca preferencial por anatomia russa em corpos brasileiros, constata-se também que o Bolshoi vai descartando jovens com potencial extraordinário e de excelência para o balé, talvez por não se encaixarem – entre outros critérios nem sempre claros – aos parâmetros físicos e regras inflexíveis que vêm do leste-europeu. 

Em sua visão delineada nas redes de comunicação, a instituição destaca a “tradição com capacidade de se reinventar” como um dos seus pilares. Essa iniciativa muito bem pontuada pelo Bolshoi Brasil,  precisa, de fato, ser colocada em prática. Porque até mesmo a metodologia adotada pela escola e criada pela bailarina russa Agrippina Vaganova, considerada revolucionária à época, lá pelos idos de 1920, é passível de readaptação se houver um olhar tecnicamente mais sensível e voltado ao perfil do bailarino brasileiro e suas particularidades.  

A história mostra que a arte sempre se renovou. O homem da caverna já dançava. E seus movimentos bailantes ficaram registrados na chamada arte rupestre: aqueles desenhos cravados em rochas e paredes das cavernas. A dança passou por todas as eras da humanidade. Desde o período paleolítico com seus movimentos vinculados à sobrevivência, ao neolítico, com seus rituais, oferendas e celebração à terra e à sua fertilidade. E seguiu se readaptando.  

Na chamada “idade das trevas”, a Idade Média, mesmo com a igreja proibindo as manifestações corporais e fechando teatros, a dança existiu e sobreviveu. Foi espertamente recriada pelos camponeses durante os festejos de semeadura e colheita, com a camuflagem de personagens de santos e anjos. As danças milenares do antigo Egito, da Grécia e da Índia também misturavam movimentos de integração entre corpo e espírito para apresentar o seu balé ritualístico e sagrado. A dança estava ali, transformada.  

No Renascimento do século XV, por exemplo, a dança se reeditou para acompanhar os intensos sopros de renovação na vida social e cultural das cortes. Os chamados “Triunfi” (triunfos) fervilhavam os palácios de Florença na Itália da era Médici. E foi lá que se apresentou, em 1459, numa festa de casamento, o primeiro triunfo considerado balé: uma mistura de dança, canto e poesia.   

De lá pra cá, o balé saiu dos salões palacianos e ganhou os palcos de teatros, evoluindo sempre em técnicas, movimentos e autonomia, alçando voos bem maiores que aquelas cinco posições básicas criadas pelo músico e coreógrafo Pierre Beauchamp, da Academie Royale de la Misique et de la Danse, lá pelos idos de 1600 a 1700. Essas posições de pés, braços e de cabeça para balé são conhecidas até hoje, mas foram se atualizando ao longo da história, naturalmente com novos métodos e estéticas. Porque a arte é dinâmica, inventiva e não para de evoluir e apontar possibilidades. 

O balé russo que hoje tem a sua maior expressão na Bolshoi Ballet Academy, do Teatro Ballet Bolshoi de Moscou, surgiu do encontro de dois estilos europeus: o nobre francês, do mestre Marius Petipa, e o forte virtuoso italiano de Enrico Cecchetti. Estes deram origem ao método russo, especificamente mais vital e adequado ao temperamento e ao físico dos bailarinos russos. Porém, os séculos XX e XXI chegaram soprando modernidade e trazendo revoluções, ousadias e descobertas inimagináveis, impulsionando a dança a participar dessa dinâmica, buscando novas técnicas, formas e movimentos. Com isso, surgem escolas, coreógrafos e profissionais abertos às transformações de um mundo que se aprimora e se conecta com a arte do seu tempo. 

Estética criada para bailarino americano  

Um exemplo clássico disso e no qual o Bolshoi Brasil deveria se inspirar, vem da própria Rússia. O coreógrafo russo George Balanchine, fundador da Escola de Bailado Americana, que resultou no New York City Ballet (1948), priorizou como meta a concepção de uma identidade estadunidense para a dança. Balanchine desenvolveu uma estética própria, respeitando o biotipo e as características dos bailarinos americanos: pernas e pescoços longos, busto imperceptível e cabeça pequena.  

A estrutura física do bailarino brasileiro nem sempre será igual ou semelhante à do bailarino russo. Aliás, quase nunca será. Isso não significa que a grande massa de potenciais bailarinos nacionais não esteja apta para dançar balé ou tenha menos talento para deslizar nos palcos do mundo. O Bolshoi Brasil precisa buscar este ar de renovação e sair do conservadorismo estético-europeu, priorizando a sua própria identidade.  

Isabela Coracy, bailarina brasileira do Black Ballet

Mesmo mantendo a metodologia fantástica e eficiente que fez do Bolshoi russo a maior e mais conceituada escola de balé do mundo, há possibilidade de se formar, sim, um casting de bailarinos brasileiros fenomenais, talentosos, superiores e criativos; pronto para se destacar no cenário internacional da dança e a ser absorvido pelas mais importantes companhias de balé do mundo. Isso, em escala significativa, não através de meia dúzia de profissionais, apenas, como ocorre hoje.  

O que se vê ao longo das exaustivas audições anuais do Bolshoi Brasil são milhares de crianças e jovens com extraordinário potencial, descartados dos seus sonhos, projetos e ânimos devido a essa busca ostensiva por perfis corporais distantes e sem senso de pertencimento. Naturalmente, sabe-se que as vagas são limitadas e que centenas de jovens não alcançam, por mérito, os resultados esperados, o que é normal num universo tão grande de mais de 5 mil inscritos. Mas, sabe-se também que inúmeros outros chegam às etapas finais mostrando relevante habilidade, porém são desconsiderados. 

A ausência de feedback 

No escuro, esses jovens voltam para casa sem qualquer tipo de resposta, sem a noção exata de onde falharam e de que forma podem se preparar para aperfeiçoar a sua arte. Tem sido observado por inúmeras famílias que o pós-seletiva não vem acompanhado de informações explicativas a respeito dos critérios utilizados e nem de avaliações sobre a melhoria dos candidatos, o que lhes permitiria seguir adiante em busca do aprimoramento. Tal atitude deixa a marca da ausência de empatia e de responsabilidade com o crescimento desses jovens, já que neste círculo vicioso, os bailarinos que não sucumbiram ao desânimo e à baixa autoestima, até desistindo da dança, voltam no ano seguinte e revivem tudo, participando de provas exaustivas que chegam a durar mais de sete horas de esforço físico e cognitivo. E, outra vez, sem qualquer compreensão do que poderá lhes trazer êxito. 

O que deve ser ponderado nesse processo é que é vital sonhar e persistir, mas com a clareza e a percepção de como direcionar esses jovens para a concretização dos seus sonhos. É inadequado, até mesmo desumano, estimular crianças a buscarem a arte e depois dispensá-las sem qualquer estratégia pedagógica de acolhimento e de feedback sobre a sua performance, seus pontos fortes e pontos a melhorar. Em dinâmicas como essas, são facilmente observados graves danos psicológicos e emocionais, infantis. Adotar uma postura cuidadosa no retorno a esses jovens, ou pelo menos aos concorrentes finais, é essencial porque reflete diretamente no sucesso do seu desenvolvimento. 

Mais assertivo seria, talvez, se a seleção de novos talentos ocorresse de forma autônoma e sem custos para os participantes, através da procura por perfis em academias de dança, studios ou outros locais promissores. Isso evitaria a movimentação de tão grande número de aspirantes a bailarinos, sabendo-se de antemão que a maioria que se desloca de seus estados e remotos cantos do país em direção à Joinville, não conquistará uma das raríssimas vagas preenchidas, inclusive, por critérios não muito claramente definidos. 

Em seu edital de 2021, por exemplo, sabe-se que as datas para as duas etapas da seletiva são bem estabelecidas. No entanto, não há consenso claro sobre essa regra poder sofrer alterações a depender de qual seja o candidato ou de qual seja o seu potencial, o que gera dúvidas se todos os participantes são, de fato, avaliados nos mesmos dias previstos no edital. Também chama a atenção a regra estabelecida de que o candidato poderá ser dispensado a qualquer momento sem precisar cumprir todas as etapas. As razões não são expostas no documento. Os critérios de avaliação das duas etapas também são descritos de forma generalizadas, sem detalhar especificamente como se dará a verificação de aptidão física, habilidades técnicas- artísticas ou quais pontos essencais serão levados em conta pela banca examinadora. 

A cada ano de seletiva nacional, para admitir 40 crianças (20 meninas e 20 meninos) na 1º série da escola, o Bolshoi Brasil inscreve de 5 a 6 mil candidatos. O valor da inscrição, R$ 25,00, apesar de simbólico, rende anualmente uma soma significativa para a instituição que tem personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, e recebe doações da sociedade, apoio financeiro de grandes empresas como a Caixa, Santander, BMW, Philco, Britânia, entre outras, além de subvenções do governo de Santa Catarina e Prefeitura de Joinville.  

A responsabilidade social que o Bolshoi Brasil promove e divulga, portanto, não deve apenas focar na garantia de sua sustentabilidade pela sociedade e governo. O resultado na vida desses jovens deve ser efetivo e concreto. Deve transcender o mero aprendizado para alcançar o brilho da própria arte, da consagração do talento, do voo profissional, da autossustentação e da qualidade de vida desses bailarinos. E aqui, sim, é preciso checar, de fato, qual é a métrica desse trabalho, hoje, no mundo. Onde estão os brasileiros saídos da Escola Bolshoi Brasil? Quantos vivem de sua arte e conquistaram seus objetivos? O volume é significativo para a estrutura e o aporte que a escola tem? Esses resultados são proficientes?  

Que a missão do Bolshoi Brasil não seja apenas a de reproduzir exclusivamente linhas mestres de balé para russo ver. Mas, a de formar bailarinos brasileiros para o mundo aplaudir. Quando essa relevante questão tomar formas ainda mais práticas, a escola irá, de fato, alcançar o sucesso de sua missão que, com certeza, não é gerar uma casta de bailarinos limitados, transformados em professores de escolas de balé instaladas nas tantas esquinas de Joinville. 

Porque o grande diferencial está justamente no despertar e forjar a verdadeira arte do bailarino brasileiro, respeitando as suas formas, sua estrutura, os seus jeitos, suas referências culturais e peculiaridades, formando, então, profissionais de excelência e com o mesmo nível competitivonão só dos companheiros russos, mas do mundo inteiro.   

 Bolshoi Brasil, mostra a tua cara brasileira! 

“Vou aplaudir no dia que o Brasil tiver uma bailarina negra profissional em uma companhia”. Ingrid Silva, bailarina, negra, brasileira, considerada uma das melhores bailarinas da nova geração do mundo. 

Fotos: Instagram / Lucinda Grange

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com

Destaque

Slow News: A revolução do jornalismo lento

Retornando à coluna Visualidades após um breve descanso – período em que inexoráveis reflexões sobre os difíceis tempos em que vivemos ganharam espaço -, me ocorreu essa abordagem sobre a importância do jornalismo em tempos caóticos e pandêmicos, sua sobrevivência, readequação e credibilidade. Um tema nada fácil em épocas de fake news, amadorismo e enxurrada de “influencers” produzindo conteúdos a torto e a direito nas redes sociais. Há os que defendam essa febre de “exibir conteúdos”, manifestar-se, “interpretar” fatos, comunicar conhecimentos e, de quebra, mostrar-se, como uma “nova” forma de fazer jornalismo, com pegada moderninha e antenada com a era digital. Só que não! Jornalismo sempre foi e será um serviço público, não um produto ou uma ferramenta de marketing. Seja nos debates políticos, culturais ou sociais, o jornalismo deve ser o vetor da notícia responsavelmente testada, checada, aprofundada e levada com responsabilidade à população. E, como serviço, sua função social é inquestionavelmente a de manter a sociedade legitimamente informada, com critério, verdade, ética e clareza.

Os pesquisadores, os especialistas em comunicação, mostram que o jornalismo do século XIX apresentava características bem autênticas de serviço, linguagem literária e engajamento com causas sociais e políticas. Tudo muda e a dinâmica do universo é essa mesmo. Mudar para melhor no sentido do aperfeiçoamento e eficiência é o que faz sentido. O resto é retrocesso. A concorrência entre os grandes veículos de comunicação acabou por produzir efeitos – hoje sabemos – devastadores, na forma de produzir e veicular a notícia. O imediatismo, a pressa, o furo, passaram a ser carimbos de competência, além de poderosos filões para profissionais e mídias dispostas a se engalfinharem por prestígio e destaque. A internet, a popularização das redes sociais e os equívocos jurídicos que derrubaram a exigência do diploma, transformando a atividade jornalística nesse caos que é hoje, ampliaram ainda mais o estrago na qualidade e no desvio funcional do exercício da profissão.

A filosofia Slow News aponta uma nova tendência informativa, com notícias mais pensadas, aprofundadas, apoiadas num trabalho de pesquisa, verificação e arco narrativo.

Aqui não vamos nem falar das tendenciosidades que norteiam as linhas editoriais das grandes mídias e que aliciam a notícia de acordo com os seus interesses financeiros, político-partidários e visões de mundo. Essa é outra discussão, assim como é outro o debate sobre a sanha da polarização que vai criando uma sociedade em rede colérica e feroz, onde a conversa política tornou-se odiosa, obscena, insultante, a ponto de não permitir ao outro nem mesmo o direito do ser agnosticamente político, ou apartidário, se assim optar. A “doença fascista” acometeu os extremos polares – seja direita ou esquerda – todos empoleirados em suas narrativas tóxicas, julgando e desqualificando não só aos contrários, mas também aos que se recusam a qualquer tipo de posicionamento unilateral. Ser chamado de “isentão” é só o mínimo da depreciação aos que se abstêm das discussões insanas e completamente bizantinas. 

Jornalismo sem pressa

E em meio a esse cenário antropofágico, repleto de selvageria, fúria, meias verdades, fake news, pseudos profissionais e notícias descontextualizadas, é que a informação leviana e apressada vai sendo confundida com “jornalismo”, desgastando ainda mais a credibilidade do público em relação às grandes mídias impressas, sites noticiosos e telejornais. Parece um ambiente de terra arrasada! Foi com esse sentimento e reflexões sobre os efeitos da era Covid no jornalismo que comecei minhas incursões pelo chamado Slow News. Um movimento que ganha corpo em diversas partes do mundo e que vem sendo considerado como uma inevitável solução para resgatar o verdadeiro jornalismo, o jornalismo raiz e a sua função de estar mais perto e a serviço da comunidade. A filosofia Slow News aponta uma nova tendência informativa, com notícias mais pensadas, aprofundadas, apoiadas num trabalho de pesquisa, verificação e arco narrativo.

Por identificação com o idioma, venho acompanhando o movimento Slow News criado na Itália, país onde vivi por quase três anos. Acredita-se que as primeiras discussões e publicações sobre o slow journalism ou “jornalismo lento”, tenha surgido no Reino Unido com a revista Delayed Gratification, dirigida por Rob Orchard e Marcus Webb, jornalistas que apreciam a produção de notícias sem pressa, sem correria e que apostam que o jornalismo impresso está longe de morrer. Na Itália, porém, o ponto de partida do Slow News foi o livro escrito pelo americano Peter Laufer, em 2014, um manifesto provocativo que questiona o valor das notícias com “calorias vazias” que acompanham o nosso cotidiano. Inspirado no movimento slow food, ele sugere um ponderado recuo do imediatismo, da enxurrada constante de notícias instantâneas, em troca da informação produzida de forma cuidadosa e completa. O argumento de Laufer reflete sobre a importância do jornalista e do próprio consumidor de notícias reservarem um tempo para ruminar sobre os eventos noticiosos dessa era digital, procurando guiar-se em uma busca gradual por notícias mais lentas, produzidas criteriosamente, sem o aflitivo deadline.  

Momento para refletir e sonhar com a volta do jornalismo de serviço e com credibilidade

O movimento italiano que vem sendo testado no Portal Slow News é tocado desde 2014, com sucesso, pelos jornalistas Alberto Puliafito, Andrea Spinelli Barrile e Andrea Coccia. Todos fundadores e convictos de que o Slow Journalism é a revolução, o caminho de volta ao jornalismo autêntico, sustentável, sem obsessão por cliques, apoiado no trabalho de investigação, pesquisa, contexto histórico e verificação que é a marca do verdadeiro jornalismo. Utopia? Alberto Puliafito, editor e diretor- geral do Portal, acredita e está decidido a traçar o futuro do jornalismo. “Pode ser uma utopia, eu sei. Mas é isso que você deve almejar para chegar, pelo menos, a algo intermediário”, diz. O que, diante do caos informativo que ganha cada vez mais espaço nas redes sociais, já seria o melhor dos mundos para o jornalismo, restaurado como serviço às pessoas. 

Esse promissor amanhã foi delineado por Puliafito em seu livro  “Slow Journalism – Chi ha ucciso il giornalismo?”  (Jornalismo lento – Quem matou o jornalismo?), escrito em parceria com o jornalista Daniele Nalbone. A filosofia não perpassa apenas pela forma de fazer jornalismo, mas também de mantê-lo, autossustentável, desvinculado da lógica publicitária, oferecendo um arcabouço ético, alicerçado na sustentabilidade, tanto para a produção como para o consumo de mídias e dispositivos digitais, ensaiando um novo modelo de negócio com alavancas alternativas de monetização, a exemplo de eventos ao vivo, doações, opções de adesão e assinaturas. O desafio é o de tornar o jornalismo acessível não apenas para os que podem pagar, mas com acesso livre aos que não podem.

 “O trabalho deve ser pago sempre. Mas ao mesmo tempo o jornalismo deve ser acessível para aqueles que não podem pagar. Nossos acionistas são os leitores que nos financiam, nos leem, nos ajudam e nos aconselham”, explica o manifesto do Slow News italiano onde quem decide quanto vai pagar para ter acesso ao site é o próprio leitor, inclusive nada. O leitor pode acessar peças inteiras, com vários episódios e desdobramentos sem pagar nada por eles. Porque várias outras pessoas já apoiam o projeto. 

Os artigos, séries, reportagens, vídeos e podcasts disponibilizados no Portal Slow News não se esgotam numa única peça. As publicações são escritas levando o tempo que for necessário e publicadas quando estiverem prontas, sem pressão. São matérias nascidas de um jornalismo lento, aprofundadas quase como uma pesquisa sociológica, contando histórias verdadeiras, com personagens vivos e ambientados. Sem imediatismos. Não há interesse na polêmica do dia a dia nem nas agendas ditadas pelas redes sociais. A filosofia Slow News se preocupa com as dinâmicas de longo prazo, aquelas que afetam a todos de uma maneira geral. O que, não significa que uma peça com características slow journalism, seja necessariamente longa. O formato, enfim, em absoluto implica numa abordagem lenta. Trata-se de conteúdos que agregam valor às pessoas, serializáveis, que podem avançar em novos relatos e serem lidos hoje ou daqui a um ano.

 Seria a Slow News o nosso “Admrável Mundo Novo do Jornalismo?” O romance de Aldous Huxley é uma distopia fantástica. Os objetivos da filosofia Slow News, porém, almeja propositadamente a utopia. As luzes lançadas pela pandemia da Covid-19 nos inúmeros problemas e mazelas do velho mundo, inclusive no do jornalismo, nos leva a refletir, de fato, sobre como forjar um melhor relacionamento com a mídia digital, como buscar pensamentos e ideias mais profundas sobre a informação, sobre o progresso da tecnologia, sobre a conectada cultura contemporânea e sobre as exaustivas e superficiais interações online. Seria, pois, o momento mais propício para sonhar e refletir como construir esse novo mundo. ” Temos a oportunidade de repensar tudo. Não teremos outra chance.” #ficaaideia

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com | Portais BAHIA ECONOMICA | BAHIA JÁ | MUITA INFORMAÇÃO | DIGA BAHIA | GAZETA BAHIA

Destaque

É Natal e o futuro pede um xeque-mate

Fora do meu habitat, sem direito a algumas boas regalias que a terrinha de São Salvador me proporciona, como o sol nosso de quase todo dia, o vento fresco, os burburinhos da noite chegando pela varanda, o saboroso acarajé na esquina que bem escolher e a praia logo ali, me pego aqui e acolá nos sobressaltos que esse “fuori posto” (fora de lugar) me traz. Como boa notívaga, depois de maratonar madrugada a dentro minha série preferida do momento – O Gambito da Rainha – , sorvendo meus lentos goles de vinho rosé acompanhado de pedacinhos de nozes e castanha de caju, decido puxar as cortinas da noite e dormir. Antes do gesto mecânico, algo da vidraça da janela me surpreende e paralisa. 

Num quadro sincrônico, avisto de golpe uma linda Árvore de Natal piscando majestosamente na varando envidraçada do vizinho à minha frente. Que susto! Meu Deus! É Natal! Penso quase assombrada. Como assim É Natal? Sim! É Natal. O Natal chegou e eu, de quarentena, nem vi. A realidade me sacudiu em baque. Praticamente um ano inteirinho havia passado enquanto eu, prudentemente, assistia a vida passar pelas telinhas virtuais e da TV. Que surreal. 

Texto publicado originalmente na Coluna VISUALIDADES editada nos sites BAHIA JÁ e BAHIA ECONÔMICA

Fiquei pensando na estranheza dos últimos tempos, em como o mundo inteiro, em todos os continentes, se igualou, se identificou ou se solidarizou com algo que avassalou simultaneamente todas as divisões desse espaço terrestre. Um fenômeno que impôs ao mundo a desaceleração do seu ritmo alucinado, isolou pessoas, quarteirões, cidades, famílias, desaqueceu a vida, a economia, polemizou, dividiu, meteu medo, pânico e matou. Fez desaparecer milhares de seres humanos. Tristemente e sem aconchego.

Ainda em estado de perplexidade, fui iluminada pelos primeiros claros da manhã que se avizinhava. Olhei pro céu alaranjado e pensei: tá nascendo um novo dia. Meu coração se aqueceu porque ali, naquele momento, apesar do instante de tamanha reflexão e lucidez, senti uma amplidão e tive fé no futuro.

E ali, do choque à animação, eu decidi: QUANDO CHEGAR EM SALVADOR VOU APRENDER A JOGAR XADREZ.

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com

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Jornalismo com diploma e as fake news: De que se queixa a corte?

Nesse embate contra as fake news que o Supremo Tribunal Federal tomou ofensivamente para si, na tentativa de punir e brecar as labaredas de ódio que cospem fogo sobre as paredes do seu Palácio, podemos, quem sabe, refletir que o STF esteja provando do amargo veneno elaborado no tubo de ensaio da sua própria corte. Em 2009 os supremos ministros, por 8 votos a 1 – eu disse 8X1, quase unanimidade portanto – decidiram derrubar a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, num ataque não apenas à prática profissional com responsabilidade, mas também ao direito de a sociedade receber informações tecnicamente apuradas, certificadas e mais qualificadas. A controversa decisão, aliás, foi tomada depois de 70 anos de regulamentação da profissão e de 40 anos da criação dos cursos de nível superior de Jornalismo, ignorando por completo a opinião da sociedade brasileira. Pesquisa realizada em setembro de 2008 pelo Instituto Sensus, em todo o país, cravou de forma categórica o que a população queria: 75% dos brasileiros manifestaram-se a favor do diploma de Jornalismo. 

Pois bem. De posse dessa informação o que fez o Supremo Tribunal Federal? Exatamente a mesma coisa que o Presidente da República, 20 anos depois, fez em relação aos mortos pela Covid-19: “E daí?”. Classicamente o mesmo desapreço pelo pensamento coletivo da sociedade brasileira. O resultado, para variar, tinha que ser mesmo desastroso. Sem a obrigatoriedade do diploma e com as imensas facilidades criadas pela tecnologia e redes sociais, o Brasil inteiro agora pode virar jornalista. E uma boa parte virou! Com páginas criadas nas mais variadas plataformas, assinadas ou anônimas, com digitais ou sem digitais, assassinando a gramática ou não, um séquito cada vez maior de “blogueiros, ativistas e afins” saem dos seus armários mentais para se autodenominarem jornalistas de plantão, sem nunca na vida terem sequer debruçado o olhar sobre essa área do conhecimento. E é nesse terreno fértil e baldio que crescem e se multiplicam as notícias produzidas sem critérios técnicos, sem certificação, sem o devido senso da imparcialidade e formatadas com o viés ideológico de quem as produz. Mas florescem também no mesmo terreno, as fake news criadas com o propósito de destruir reputações, agredir e confundir leitores, como as que hoje incomodam e tanto preocupam os ministros do Supremo Tribunal.

Seria esse o “neo jornalismo” sem diploma tão pleno de “direitos de pensamento” e de “liberdade de expressão” que o STF defendeu com ardor lá atrás? Em que o jornalismo sem diploma melhorou a qualidade da informação ou ampliou mais democraticamente o acesso aos meios de comunicação? Pelo visto em nada. Só piorou. O que se vê flagrantemente cada vez mais é a concentração da mídia, a precarização da profissão e da própria notícia, colocada sempre em xeque e suspeição até prova em contrário. Mas e daí? Foram esses os argumentos carimbados pelo STF para acabar com o diploma, alegando que limitar o exercício da profissão aos graduados seria cercear a liberdade de expressão, como arguiu o mais fervoroso defensor dos “sem diploma”, o então relator da matéria, ministro Gilmar Mendes. Ainda na visão “suprema” que reforçou a queda do diploma, não há no jornalismo “nenhuma verdade científica”, porque que se trata de um “dom”, uma vocação que “tende para a literatura e para as artes.” 

Ora, será que os senhores ministros supremos estão se dando conta agora de que jornalismo não é poesia, nem opinião, embora possa ser opinativo? E que o exercício diplomado da atividade jornalística não fere a liberdade de pensamento porque ela é intrinsecamente garantida pelo estado democrático de direito, independentemente de qualquer profissão que se exerça? É claro que estamos aqui na retórica desses questionamentos porque, em sã consciência, não seremos nós a ensinar macaco a comer banana. Os ministros sabem disso. Assim como sabem a quem interessa um jornalismo sem identidade, disperso, enfraquecido e sem legitimidade. Foi exatamente o que pontuou, à época, o único ministro que votou a favor do diploma – façamos justiça – , o decano Marco Aurélio de Mello: “E agora chegaremos à conclusão de que passaremos a ter jornalistas de gradações diversas, com diploma de nível superior, de nível médio e, quem sabe, até de nível fundamental”. Ponto. Não há meio termos aqui. Embora o diploma não seja a única credencial para o bom jornalismo, é inegável que a qualidade do profissional perpassa pelo aprendizado, pelo conhecimento adquirido e pela qualidade desse saber que vem, sim, do estudo, da academia e da prática.   

A “arte” de criar mentiras
A previsão de Marco Aurélio vem sendo confirmada, não por falta de aviso. Os estragos que o STF sente na própria pele não se restringem apenas à qualidade, mas principalmente à ética e à responsabilidade com a informação, elementos essenciais para o jornalismo. Comunicar-se bem, ter habilidades literárias, saber escrever um texto com introdução, meio e fim não credencia ninguém a ser jornalista como decretou lá atrás o supremo. O argumento “legal” da liberdade de expressão e de pensamento para se ter acesso ao exercício da profissão aplicado pela corte, incentivou blogueiros ou postadores de redes sociais a se considerarem e até a SEREM considerados jornalistas, mesmo sem qualquer formação acadêmica ou pensamento crítico e elaborado sobre a profissão. Não à toa, nesse mesmo rastro, os inventores de notícias – contratados ou orgânicos -, agressores e intolerantes ideológicos cheios de opinião, encontraram o caldo de cultivo favorável para expandir seus ódios e preconceitos, invocando justamente a “liberdade de expressão”.

E essa máquina do ódio que polarizou o Brasil não é nova, é bom que se diga, e não se limita aos radicais de direita. Tão velha quanto a civilização, a “arte” de criar mentiras políticas subsiste com novas técnicas, velocidade meteórica e alcance assustador, mas está longe de ser prerrogativa de um único viés ideológico. As táticas para detonar adversários e deturpar verdades utilizando aperfeiçoados modus operandi em massa como vemos hoje, tem dois lados e nenhum deles está morto. Extremistas de direita e de esquerda são os propagadores dessa praga no mundo inteiro. E no Brasil não é diferente. Portanto, se quiser de fato combater de forma justa as fake news sem criminalização seletiva e sem olhar para o umbigo dos seus próprios interesses, tanto o Congresso Nacional, através da CPMI instalada e dos debates em torno do Projeto de Lei que institui medidas contra notícias falsas, assim como o STF através do inquérito que validou para investigar radicais bolsonaristas, devem abrir a rodinha e ampliar sem partidarismo o olho central da questão, criando mecanismos e estratégias que alcancem fraudadores de qualquer naipe político, mas sem colocar em risco, aí sim, a liberdade de expressão e do pensamento livre, direito constitucional que o diploma de jornalismo em tempo algum e jamais ameaçou.

Ao contrário disso, que o resgate do diploma de graduação em jornalismo para exercer a profissão seja incluído entre as medidas adotadas para barrar os efeitos catastróficos das fake news  e, dessa forma, os supremos ministros possam aplainar seus questionamentos ao refletir sobre temas divinos como: De que se queixa o homem? Queixe-se das suas próprias decisões.”

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | mimoshomecontato@gmail.com

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Cenas de domingo: Uma jornalista na quarentena

Acordei lentamente nesse domingo de quarentena querendo continuar enroscada em lençóis, pijama e meias. Me estiquei com a preguiça dos que lamentam sair da zona de conforto, mas que se obrigam a levantar. Lancei um olhar pidão para a cama. “Já é tarde!” Me cobrei, ao tempo em que argumentava com os meus “alertadores”: “tarde pra quê?” Desisti do embate que travaria inútil queda de braço entre seres sabotadores e seres produtivos, ao ouvir barulhinhos pela casa lembrando que a vida, apesar de isolada, pulsava entre as paredes e estava a exigir providências e tarefas. Ainda que dominicais. Afastei a cortina e espiei pela janela, querendo checar a atmosfera que havia lá fora. O dia amanheceu simplesmente lindo por aqui! Surpreendi-me. Céu limpo, azul bebê, com nuvens branquinhas salpicando o firmamento aqui, ali, acolá.

E o sol aprumava-se alto. Apertei os olhos sob a irritante luz brilhante do celular e nocauteei. Putz! Mais de meio-dia! E ri do pensamento que veio logo em seguida: “E daí? Lamento! Fazer o quê?” Foi a deixa. Me lembrei que era quarentena, que tinha um vírus matando lá fora e ainda em que contexto a frase infeliz havia sido dita. “Que tosco! Que sórdido!”, pensei, me recordando de todo o resto e acordando de vez! Fui pra cozinha fazer uma xícara de café com canela – bem quente como gosto – e voltei pra janela querendo me animar e apreciar um pouco mais a beleza do dia.

Sorvendo bem devagar goles e goles de café, como faço sempre pela manhã, fiquei ali parada, olhando o cenário, um tempão. Fascinada pela fotografia tão nítida em suas cores calmas e ouvindo o silêncio tão atípico para uma ensolarada manhã de domingo, foi difícil sair daquele quadro delicadamente emoldurado para atestar que, na espreita e em qualquer lugar, havia um ser invisível letal capaz de atingir centenas, milhares de pessoas. Me reportei há algumas semanas quando observei, daquela mesma janela, a algazarra divertida das crianças correndo pelas áreas do condomínio, pedalando em pequenas bikes coloridas pelo jardim e atirando-se com barulhão na piscina, espirrando água sobre adultos esticados ao sol. E foi, então, justamente aquele silêncio, aquela calmaria inusitada que desenharam de volta a bruta realidade e o duro impacto do vírus na rotina e na vida das pessoas.

Mirei em volta. Percorri o olhar pelas outras janelas das torres à minha frente. Haviam movimentos letárgicos, pequenos barulhos, ruídos de pratos e talheres, cortinas balançando ao vento e um certo cheiro de comida e tristeza no ar. Apurei o olfato. Perfume de assado na brasa. Olhei em direção ao espaço churrasqueiro do condomínio onde aos domingos famílias vizinhas convergiam para encontros animados. Vazio, cadeiras emborcadas, silêncio. Me lembrei que, por tradição, as construções por aqui incluem quase sempre churrasqueiras de varanda. Apurei o olhar. Lá estavam labaredas tostando petiscos. Fiquei observando, de longe, o som inaudível do crepitar do fogo e imaginando as novas formas que a família inventou para se reunir e manter a diversão do fim de semana sem sair de casa. Apurei a alma. Senti falta de burburinhos, de risadas, de amigos ruidosos, aglomerados, de copos batendo.

Absorta em pensamentos quase longínquos, um ruído me desperta para os riscos de uma realidade surreal. Alguém ligou a TV de casa e, mesmo sem querer, meus ouvidos jornalísticos escutaram as notícias do dia: “Com direito a chegada em helicóptero e caminhada pela praça dos Três Poderes o presidente Bolsonaro volta a gerar aglomeração, apertar mãos, abraçar apoiadores e carregar criança no colo após retirar máscara,  infringindo decreto do Distrito Federal que estabelece regras e multas para quem desrespeitar o isolamento social | Oficiais da reserva apoiam ministro-chefe Heleno, atacam STF e falam em “guerra civil” | Bolsonaro posta trecho da Lei do Abuso de Autoridade provocando o ministro Celso de Mello por liberar vídeo da reunião ministerial | Trump proíbe entrada de brasileiros nos EUA / Brasil ultrapassa 360 mil casos de Covid-19 e já acumula quase 23 mil mortes…”.  Meu último gole de café com canela desce frio pela garganta. Saio da janela indiscreta para, enfim, jornalizar a vida em outra tela. Dessa vez, a vida real!

Por Samuelita Santana | Jornalista | Veja também nos sites BAHIA ECONÔMICA e BAHIA JÁ

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A Dura Escolha de Sofia

Nos últimos dias tenho acompanhado uma notícia que me fez estarrecer. Uma matéria que arrepia, causa terror e que há alguns dias seria algo inimaginável de se pensar. Com o colapso da rede pública de saúde por conta do Covid-19 e com a rede particular já ultrapassando os 90% de ocupação dos leitos de UTI o governo do Rio de Janeiro, em conjunto com uma equipe técnica que integra membros da Secretaria de Saúde e entidades médicas como o Conselho Regional de Medicina e Academia Nacional de Cuidados Paliativos, elaborou protocolo para definir quais pacientes infectados pelo coronavírus, em estado grave, terão direito a uma vaga na UTI e ao aparelho respirador essencial para vencer a doença. Em boa linguagem: o protocolo estabelece regras que ajudarão os médicos a decidirem quem vive ou quem morre.

Haverá uma pontuação. E aqui, ao contrário das competições, quem fizer mais pontos, menos chances terá de viver. Nem acredito que isso é real. Mas lamentavelmente, é. O protocolo, que se ainda não foi está prontinho para ser publicado no Diário Oficial do Rio, vai atribuir notas ao paciente de acordo com a existência, ou não, de doenças preexistentes. Quem for portador de câncer, insuficiência cardíaca, complicações pulmonares, doenças hepáticas ou renais, ganhará de cara 4 pontos e começará a ser avaliado como carta “quase” fora do baralho. Irá então para a fila, ficando atrás de quem tem pontuação zero ou menor. Ou seja, o infectado grave que não tiver mal nenhum ou tenha uma comorbidade cuja sobrevida seja maior do que um ano. Esse último, ganha 2 pontos. Na verdade, perde por dois pontos a chance de ficar na linha de frente dos que serão atendidos de imediato. Os de pontuação zero.

Mas olha só o que nos espera! Pode haver um desempate. Sim! O tal protocolo, que o CREMERJ explica ser utilizado em hospitais do mundo inteiro e não ser um procedimento do Rio de Janeiro ou do Brasil, prevê critérios de desempate para o caso de pontuações idênticas. Gizuz! O primeiro é se o paciente já estiver ligado a um respirador. O segundo – pasmem – é a idade do paciente. Aqui os mais jovens, com até 60 anos, ficarão bem na fita e ganharão uma vaga antes dos que têm entre 61 e 80 anos. Os acima de 80 anos estarão praticamente destinados à morte. Ficarão por último na disputa por leito. E mais algumas regrinhas: profissionais que atuem diretamente no combate ao vírus terão prioridade e passarão à frente de todos. E aqui, na minha opinião, esse seria o critério mais justo. Finalmente, a vaga de um leito de UTI será decidido pela ordem de solicitação.

O que pensar desse protocolo que vem sendo contestado por especialistas e também por diversas entidades de saúde? Terrível, escandaloso, diria. Por mais que tenhamos o conhecimento e a consciência de que o avanço exponencial da doença tombou os sistemas de saúde de países mais desenvolvidos, preparados e com estruturas mais fortes que a nossa, não há como considerar esse procedimento correto ou normal. Nenhum governo será salvo desse julgamento. O de ter optado por medidas drásticas que determinem a morte de pacientes ao invés de socorrê-los para que vivam. A história não será benevolente. E, naturalmente, não estamos falando dos profissionais de saúde obrigados à essa escolha e, eles próprios, sujeitos à mesma condenação. O julgamento apontará para as gestões públicas, seus erros, acertos e irresponsabilidades.

Seguramente, os que perderam seus queridos e suas histórias – porque eles não são apenas números – não levarão em consideração se a “escolha de Sofia” se deu baseada em critérios clínicos e normas técnicas. Mesmo em estados onde o esforço, as ações e as medidas corretas foram adotadas para que o maior número de vidas seja salvo, como é o caso de São Paulo, epicentro do Covid-19 no Brasil, o julgamento não será mais complacente. E São Paulo, onde a saturação dos leitos de UTI já beira os 90%, o vírus avança e o colapso do sistema de saúde já não parece ser mais uma simples especulação, esse mesmo protocolo vem sendo avaliado para entrar em vigor, abortando as chances de vida inclusive de pessoas que, tendo os sintomas agravados da doença, mesmo não tendo comorbidades, já não figuram na faixa dos mais jovens. Esses, se o sistema colapsar total, mesmo tendo vigor, dinâmica e planos de viver por mais outros tantos anos com animação e vitalidade, já não serão prioridades. É o meu caso, por exemplo.

O mais grave? Enquanto a vida vai virando uma roleta russa nas unidades de saúde, com o país atingindo a marca dos 160.500 infectados e cerca de 11 mil mortos – eu disse 11 mil mortos em poucas semanas – o presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro, não esboça o menor gesto de comoção ou luto pelas vidas que se foram deixando dores e amores, e segue negando a gravidade da pandemia, criando arriscadas crises políticas com os poderes democraticamente instituídos, gerando aglomerações e incentivando a população a não acreditar na letalidade do vírus e a tomar as ruas para tocar suas vidas, como se nada fora. Para reforçar o seu total desprezo e pouco caso com as recomendações e regulamentos sanitários internacionais – adotados com severidade e prudência pelos líderes do mundo inteiro – Bolsonaro brinca em agendar churrasco com amigos e curte passeio de jet ski no Lago Paranoá, em Brasília, pertinho do Palácio da Alvorada onde habita. E para selar o leve e flutuante “evento”, clica selfies com apoiadores que o esperam no pier , no momento em que estaciona a sua veloz e saltitante lanchinha. A mensagem que o presidente crava para as gentes do país a que serve? “Morram, e daí?”

Por Samuelita Santana |Jornalista | minoshomecontato@gmail.com | Veja a matéria nos links: BAHIA ECONÔMICA e no BAHIA JÁ

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Audácia e criatividade: A arte em joias de Lidia Cruz

O que importa não são os quilates e sim o efeito . Com essa clássica frase Coco Chanel desenhou a beleza e o impacto que uma joia pode causar, independente do seu valor em quilates e preciosidade.

Foi justamente pensando nos efeitos e nas emoções visuais que um belo acessório pode causar em quem o endossa, que a designer Lidia Cruz buscou inspiração para criar joias audaciosas, arrojadas e cheias de sutilezas, só para arrematar exuberância e estilo aos looks femininos e, sim, aos masculinos também. São anéis, colares, brincos, escapulários e pulseiras talhados com originalidade em prata, banho de ouro amarelo, branco e rosa.

As coleções, quase todas pontilhadas com pedras preciosas – ah!, esses fragmentos polidos cheios de energia, formas, transparência e cor -, podem trazer o fascínio e a alegria de traçados geométricos, a leveza de temas musicais como a Bossa Nova, a cultura de cidades como o Rio e Salvador e o mistério do mundo animal, traduzido em garras, galhas e na força que a fauna tem.

Tudo é possível nessa audaciosa arte em joias assinada por Lidia Cruz, menos o óbvio. Cada peça sua tem aquele Q de atitude e singularidade, mesmo as peças mais simples e delicadas. O melhor é saber que todas as coleções da designer estarão desfilando sua lindeza na Loja MIMOS e à disposição de quem quiser esbanjar efeitos e emoções por aí.

Já , já todas as peças Lidia Cruz a um clique pra você na Mimos

Por Samuelita Santana | MIMOS mimoshome.com.br


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A mini que é o máximo!

Vamos minimilizar a vida? Que tal deixar de sair com aquele bolsão cheio de bugigangas que não servem pra nada além de pesar a vida nos ombros? Sem falar no quanto atrapalham tempo e humor justamente no momento de urgência quando a gente afunda a mão naquele balde profundo em busca das chaves ou do celular que toca e pisca em desespero! As mulheres estão cada vez mais práticas, funcionais, versáteis e dispostas a simplicar a vida. A ideia de que “menos é mais” virou o lema e tudo o que a gente quer agora é enxugar e cortar excessos. E, claro, isso tem tudo a ver com autonomia, simplicidade, elegância e liberdade. A praticidade das mini-bags está com tudo. Aposte!

Mini-bag tão piccola quanto glamourosa

Mulheres modernas, cheias de atitudes e sem o menor tempo pra desperdiçar estão aderindo de montão às mini bolsas que, além de lindas e estilosas, obrigam você a sair apenas com o essencial. Bingo! É a bola da vez. A bolsa mini é it bag. E creia: não apenas para as festas Vip ou lugares sofisticados. Elas já estão por aí, em toda parte, invadindo as cenas urbanas de Paris, Nova Iorque, Milão, Londres, Tóquio e circulando pelas metrópoles brasileiras.

Se é uma onda retrô? Ah, claro que sim! A moda sempre estará retroagindo às referências que marcaram alguma época. As mini-bags já povoaram os cenários chics dos anos 20, 40, 60 e até anos bem pertinho como os 90.

A releitura do acessório chegou pelas mãos do estilista francês Simon Porte Jacquemus, que apresentou sua versão minúscula durante o Paris Fashion Week 2019. A ideia era ser apenas um “objeto-convite” em seu desfile. Só que de imediato aquela mini gracinha liberou seu potencial e em pouco tempo tornou-se o mais amado objeto de desejo de influencers e fashionistas. As blogueiras enloqueceram! E quer se surpreender? A mini-bag de Jacquemus não é apenas mini, é MICRO. De tão pequena não cabe absolutamente nada além de moedas, quiçá um pequeno batom. Mas que é puro charme, é!

E as surpresas não param por aí. As micro bolsas são, de fato, minúsculas – medem  8,5 centímetros de altura por 5 cm de comprimento – mas seus preço estão longe disso. As grifadas da Europa chegam a custar 620 euros e o difícil é encontrá-las por menos de 200 euros. 

A mais famosa blogueira italiana, Chiara Ferragni , aderiu ao acessório e usa no cotidiano

E por aqui já temos a nossa versão mais queridinha. E por preço bem mais modesto. A mini-bag criada pela designer Lidia Cruz já é sucesso na Mimos Home onde foi lançada com exclusividade. Totalmente feita à mão com linha metalizada, forrada, alça e feche de metal, a bolsinha Lidia Cruz oferece variadas opções de uso: mão, ombro ou pendurada no pescoço. Delicada em seu sofisticado ponto crochê, essa mini-bag cabe o essencial pra você sair por aí leve e fagueira: chaves, cartão e batom. Pra que mais?  Se jogue menina, as mínis estão na ordem do dia e são O MÁXIMO.

Vai buscar a sua na mimoshome.com.br

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Nova fase Mimos resgata a essência das coisas

O retorno ao natural torna-se cada vez mais uma tendência. Seja no estilo de vida, na moda, no comportamento, na decoração. Uma onda que chega, naturalmente, com aquele olhar contemporâneo que faz das releituras uma modulação de interpretações harmonizadas com tudo que vivemos hoje. Não dá pra dispensar o moderno, a praticidade. Mas dá, sim, pra resgatar a essência do bom, do saudável, do belo que referenciou toda a história recente da humanidade.

 E foi dessa forma que as sossegadas técnicas do Crochê e Tricô entraram em cena nas passarelas e nos ambientes décor, trazendo de volta o seu ar romântico, boêmio, artesanal. E a gente aqui da Mimos, que vive na batalha sempre em busca da melhor batida pra nos fazer feliz e feliz a quem nos segue, decidimos também testar outros caminhos e surfar nessa onda instintiva do retrô natural. Estamos inaugurando uma NOVA FASE😊💜

A nossa designer e curadora, Lidia Cruz, é daquelas que possuem mil habilidades para processos manuais. Não à toa desenha, produz joias e mete a mão na massa para o fabrico de peças estilosíssimas. Quando a gente pensou nas mudanças e começou a pesquisar tendências a ideia do crochê, tricô, peças customizadas e artesanais pintou de forma bem natural. Tava ali entre a gente a veia da criatividade e o talento das mãos. Lidia lembrou que, inusitadamente, os primeiros traçados com linhas e lãs, os seus primeiros bordados, ela aprendeu com o pai e não com a mãe da gente, como era de se esperar. “Uma cena bem vanguardista pra aquela época. Aliás, esse meu espírito livre, sempre querendo tá um passo à frente, deve ter vindo daí. Esses atos que fogem à regra, ao padrão estabelecido sempre me chamaram a atenção”, Lidia falou relembrando.

Conversa vai, lembrança vem e a gente se animou ao ver que o crochê e o tricô estavam com TUDO e batendo um bolão nos ambientes decorados. Pronto! Cheia de ideias,  Lidia começou a sua criação exclusiva para a Mimos Home. Providenciou barbantes tingidos, novelos e novelos, apetrechos e variadas agulhas, a maioria bem maiores e diferentes daquelas usadas pela antigas vovós e das que utilizou em seus primeiros pontos. Seguindo a linha ecológica que ganha cada vez mais adeptos, Lidia escolheu o couro vegetal pra finalizar as peças, recebendo dos fofos animais aquele abençoado agradecimento. Claro! 

Barbantes coloridos, agulhas de tricô, crochê e muita criatividade na cabeça

Pensou, criou, desenhou e olha o resultado!!!  Cestinhos lindostrend, fáceis de mover e multiuso. Decora com charme artesanal qualquer ambiente, abrigando revistas, mantas, toalhas e os mil trecos que se queira guardar. E a linha segue com Sandálias de Quarto, fofas, macias, charmosas, com solado impermeabilizado pra gente enfiar os pés logo ao acordar pra vida, recebendo o primeiro carinho do dia 🤗

E lá vamos nós, conscientes de que essa NOVA FASE da Mimos Home tem TUDO A VER com a gente. E esperamos que com você também 💜

Chinelinhos fofos para começar o dia macio

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Canela pra aromatizar, curar e sensualizar

Especiaria das mais cobiçadas a Canela, além de extremamente aromática e linda em sua tonalidade terroso-avermelhada, possui tantas propriedades e aplicações que não tê-la por perto pode ser até pecado. Árvore nativa do antigo Ceilão, que hoje chamamos de Sri Lanka, ao sul da Índia, na Ásia, a Canela, assim como o cravo, a pimenta do reino e a noz-moscada, era utilizada como moeda de troca para pagar dívidas, impostos, obrigações religiosas, servindo até como herança, dotes, reservas de capital e divisa de um reino.

Mas bem pra lá de seus efeitos econômicos e mercadológicos a Canela carrega consigo, desde os tempos de outrora, mil e outras tantas utilidades. Da culinária à medicina, essa casca de cor acastanhada vem sendo utilizada para condimentar pratos, aromatizar, curar e despertar amores. Amores? Sim, amores! A canela tem poderes afrodisíacos! Dizem que se você oferecer um chá quentinho ao seu amor com esses pauzinhos avermelhados, cujo aroma remete ao exotismo mágico do Oriente, a cor à sensualidade das peles bronzeadas ao sol e com esse peculiar sabor picante que atiça o paladar, é tiro e queda.

Além da casca, a Canela pode ser encontrada em forma de óleo, extrato, pó seco e é muito utilizada em substâncias aromáticas, incensos, perfumes, cosméticos, cremes dentais e até licores. O licor é produzido incorporando a casca macerada na bebida. Ô delícia! E mais: Com o seu sabor forte e picante a Canela é usada para acentuar doces, sobremesas, pratos salgados orientais e ainda realça com sutilidade quando misturada a outras especiarias, transformando-se em temperos muito apreciados, a exemplo do curry.

E na medicina, pra que serve mesmo a Canela? Agora é hora de você quase nem acreditar. Pra começar a canela emagrece e controla a diabetes. Vero? Sim! Os especialistas afirmam que a Canela melhora a eficácia da insulina, controlando os níveis de açúcar no sangue. Também inibe algumas enzimas pancreáticas, possibilitando a redução do fluxo de glicose na corrente sanguínea, evitando os picos de insulina após comer. E para perder peso? O que se fala é que é possível que a Canela induza o processo de termogênese e aumente o metabolismo, obrigando o corpo a queimar mais calorias, utilizando a gordura acumulada no abdômen. Mas é óbvio que você não vai dar mole de ficar só no chazinho da canela. Atividade física com alimentação equilibrada tá valendo!

 Os aromaterapeutas afirmam também que o óleo de canela quente – por sinal muito aromático – pode ser usado nas massagens pra tonificar o corpo, além de facilitar a circulação sanguínea, ser antiespasmódico, antisséptico e estimulante sexual. Tem mais benefícios: em forma de chá a canela ameniza a fadiga e a depressão, tonifica os sistemas respiratórios, curando tosses, resfriados, dores de estômago e diarreia. Quando utilizado em difusores evita que o vírus da gripe se espalhe pelo ar.

O incenso de Canela funciona como purificador de ambientes, é um calmante poderosos e segundos os mais espiritualizados sintoniza bons fluidos porque seu aroma atrai clientes e negócios. Bom demais, hein?    

Incenso de Canela purifica e deixa o ambiente em alto astral

 Agora pra finalizar essa deliciosa e aromática matéria só falta mesmo uma lanterninha pra iluminar e espelhar cheirinho de canela. E ainda por cima de vidro vermelho? É paixão pra iluminar, energizar e criar aquele clima noir que todo mundo precisa depois de um dia corrido e exaustivo. E é bom não esquecer: o aroma da canela é excelente afrodisíaco, perfeito para apimentar qualquer relacionamento. E acredite: espalhar velas aromáticas ou óleos essenciais com cheirinho de Canela pela casa mantém o clima sempre em alta.

Olha essa lindeza de lanterninha que já vem com velinha perfumada de canela da > Mimos Home

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Felicidade aos pais. Homenagem às Pães

Hoje é o Dia dos Pais e desejamos a cada um deles um DIA carinhoso e feliz. Mas hoje também é o Dia das Pães – essas mulheres pai e mãe – e é a elas que queremos hoje render a nossa homenagem. De uma coisa temos certeza: Não é nada fácil.

Mas não queremos falar dessa dura tarefa de ser mãe e pai ao mesmo tempo, mas sim do que se perde quando se abre mão de ser um Pai, de estar perto e criar seu rebento.
Acho que a maior realização de uma Pãe é sentir um amor que não se consegue explicar, que transcende todo e qualquer entendimento e lhe completa de uma forma tão visceral que parece ser filho e Pãe uma só pessoa.

São tantos os momentos indispensáveis: ouvir descobertas e reflexões todos os dias. Colocá-los na cama todas as noites e receber beijos e declarações de amor. Chorar com as primeiras decepções amorosas. Acordar de madrugada e ir buscá-los nos shows e baladinhas e ver que estão são e salvos. Ouví-los defender a escolha da sua profissão.

Conhecer todos os seus amigos e saber que estão em boas companhias, ou não. Vê-los adultos e perceber que ajudou a construir seres humanos incríveis, responsáveis, ciente das suas escolhas e reproduzindo com sabedoria seus valores.

Ah Pais! Nada disso será novamente reeditado, nunca mais voltará. Essa oportunidade de guiar e ser presente na vida Deles, os filhos que levam o seu DNA e são sua própria extensão, estará perdida para sempre. Seus filhos se ainda não são, serão adultos um dia e, com toda certeza, serão excelentes pais. Ou Pães. Porque a vida soube lhes dar uma referência digna. A referência de quem lhe acolheu Pai e Mãe.

Ser Pai é uma escolha. Uma linda escolha. E é lindo de se ver. O pai presente. O pai amigo. O pai abrigo. Pai é chão, parceria, orientação, dedicação, abdicação.

* É amor, AMOR INCONDICIONAL, como de mãe. Aos que de forma lindamente consciente e responsável fizeram essa escolha, nosso desejo de um dia pleno junto às crias.
Mas o nosso grato Parabéns será endereçado mesmo a elas, as PÃES, que não se furtaram de fazer essa dupla escolha!💜😊👩‍👩‍👧*

Por Lidia Cruz | Designer e Curadoria da MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Sextou!! Hora de amimar amigos

Encontrar amigos será sempre um ato singular. A frase pode até ser clichê, mas que é uma verdade impossível de descartar, é: “amigos são a certeza de jamais sermos solidão”. São eles, os amigos especiais, que constroem junto com a gente a história que nos representa na vida e promovem aqueles impagáveis momentos de alegrias, risadas, aconchego, amparo, reflexões e, claro, muita diversão. Por isso, achar sempre no meio de agendas corridas e afazeres que nunca cessam momentos únicos para estar com eles, não é apenas importante e bom, é imprescindível!

Com amigos, solidão zero!

Então quando a sexta chega trazendo essa possibilidade de reencontro você faz o que? Brada bem feliz: Sextou!! E trata logo de saber onde os amigos estão pra se unir a eles. É exatamente isso que faz com frequência a analista de logística sênior da Continental Pneus, Gina de Almeida Farias, uma baiana de 48 anos, já avó de duas netinhas de 1 ano e outra de 1 mês. Ao lado das filhas, de 29 e 24 anos, Gina se mistura e pode muito bem passar como uma das irmãs. Cuidadosa com o seu lindo templo, ela malha, faz Fitdance e está sempre em movimento.

Gina adora praia, cinema, teatro, viajar e, óbvio, frequentar bons restaurantes de onde tira inspirações para fazer pratos que surpreendam os amigos nos encontrinhos que faz questão de promover em sua casa ou na casa deles. Num desses encontros Gina preparou um jantarzinho delicioso, prático e – olha que bacana – fez questão de enviar a dica como sugestão pra os seguidores do Mimos Blog. Um mimo para os que numa sexta-feira qualquer queira reunir os amigos para uma noite de boa conversa, vinho e inúmeras risadas. Bom demais Gina! A gente super agradece e manda aqui os detalhes, com foto e tudo. Confira esse charmoso menu:

Um show de entrada: bruschetta de parmesão, tomate e manjericão, agradando a todos os paladares.

Aplausos para o prático e saboroso prato principal: medalhão de filé mignon suíno com calda de laranja e vinho tinto. Para acompanhar, um risoto de funghi e cogumelos. Pra fechar? Uma sobremesa levinha e refrescante que pode ser um mousse de limão ou de maracujá. Espetáculo!

Medalhão suíno com risoto de funghi e cogumelos
Gina com a mão na massa!

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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A iluminada simbologia dos castiçais

Um dos mais antigos símbolos religiosos o candelabro ou castiçal, é visto até hoje como uma peça de encantamento, plena de beleza, referências e simbolismo. Não é à toa que ao longo dos séculos os castiçais se mantiveram como uma importante peça nos ambientes requintados dos palácios, templos, dos grandes salões festivos e nos ricos jantares, ornando mesas de reis e rainhas.

A história conta que o primeiro castiçal foi produzido por Moisés, seguindo rigorosamente as instruções dadas por Deus no Monte Sinai. Era um objeto inteiriço de ouro puro e batido. Na extensão de cada braço havia uma cavidade onde era depositado o azeite junto ao pavio. O castiçal ficava no Tabernáculo, posicionado dentro de um Santo Lugar, sendo a única peça que iluminava o espaço.

Segundo os judeus, o candelabro, ou menorah, remete aos olhos de Deus que sondam toda a terra. Para os cristãos, o castiçal de ouro aponta para Cristo e sua igreja que é a luz do mundo.

Com essas referência tão significativas quem não quer ter um castiçal em casa decorando o ambiente e iluminando a vida? E, claro, não precisa ser exatamente de ouro puro 😊! Mesmo sendo uma peça clássica, utilizada ainda hoje com requinte e sofisticação nas celebrações especiais, os castiçais se modernizaram com o decorrer do tempo exibindo novas formas, matérias e tamanhos.

O seu marcante sentido místico também ganhou contornos mais profanos e decorativos. Naturalmente os castiçais de ouro ainda se impõem com seus entalhes e brilho, remetendo-nos a épocas opulentas e a estilos medievais, renascentistas, barrocos e árabes. Porém, os que desejam apenas trazer para perto de si toda essa beleza plástica, esse encantamento carregado de histórias e símbolos, sem ter necessariamente que gastar uma fortuna, as opções de castiçais à disposição são infinitas. E podem, sim, decorar lindamente ambientes e momentos especiais, com seus designs mais contemporâneos e materiais menos nobres e mais modestos.

Um bom exemplo é esse conjunto de castiçais com uma pegada bem industrial, que mistura com delicadeza e personalidade vidro colorido e cimento natural. Vamos combinar que esse trio não é de ouro mas esbanjaria harmonização e estilo marcante em qualquer recepção e ambiente da casa. Né não?😎💜

Castiçal com pegada industrial produzido em cimento e vidro

Veja outros lindos castiçais que a gente aqui da Mimos Home garimpou pra você e que podem ser adaptados ao seu ambiente e estilo! Clique pra ver esses charmosos AQUI

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Vida que segue…

❤ Uma carta a meu amor | Por Maria de Fátima Lemos

Querido marido, amigo e companheiro! Hoje você faria 60 anos. Em algum lugar talvez, você esteja comemorando e celebrando a data que aqui neste nosso mundinho você chegou. Eu quero achar de verdade que você cumpriu sua missão com amor, coragem, brilhantismo e fé. Mas acima de tudo com resignação e altruísmo. Quero acreditar quando alguns dizem que seu tempo era aquele e que você até esticou um pouquinho mais para ficar comigo, para ficar entre nós.

No entanto, quero te dizer que, sinceramente, o mundo sem você não parou, mas também não ficou melhor. Acho até que em alguns aspectos ele piorou. É assim quando pessoas boas se vão. Fica um vazio e uma incompletude. Eu tento seguir. Afinal alguns me dizem: já se foram cinco anos!!! É vida que segue! E assim eu sigo. Alguns dias animada e alegre. Em outros dias, a sua  ausência física que se transmutou nas lembranças de todo nosso aprendizado e conquistas juntos, no grande amor que tínhamos um pelo outro, no aconchego e companheirismo, é a única presença de que necessito.

Sua lembrança se torna presença. E assim eu sigo! Hoje as recordações de que provavelmente estaríamos comemorando esta data com um belo churrasco na varanda da nossa casa, com todas as pessoas que você amava, sua mama (agora ela está ai do seu lado), seus irmãos, sobrinhos, seus filhos e netos, biológicos ou não, confesso que me entristeço um pouco. A saudade aperta mais, os questionamentos vêm e vão. Mas me lembro de sua força e sinto você ao meu lado. Quase escuto seus conselhos. Quase sinto seu abraço. Quase….

Então meu amor, assim eu sigo….

Maria de Fátima Lemos é psicóloga, tem três filhos, seis netos e mora em Brasília.

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Essas meninas que choram lindo!

Falar de mulheres que choram nem sempre é fácil. Mas falar de mulheres que usam o choro pra espalhar cultura, compartilhar qualidade e divertir… ah! é bacana demais! Então vamos às Choronas, essa mulheres espetaculares, paulistas, instrumentistas, que desde 1994 promovem choros e chorinhos pra acalentar a alma e a alegria da gente. Formado exclusivamente por mulheres o grupo, desde então, vem criando elos e registros belíssimos entre o popular e o erudito, fazendo zoar com virtuose chorinhos, baião, maxixe e samba.

Nesse domingo invernoso, enquanto a gente discutia a pauta da semana, Analécia, a mais cartesiana da Mimos, sempre de olho nos números, planilhas e estatísticas, nos surpreendeu ao repassar um vídeo com o chorinho das Choronas. Nem pestanejamos: Uau!  Pauta de hoje decidida. E aqui brindamos a quem nos segue com o som dessas meninas que “choram” lindamente pra ver o Brasil dançar: Maicira Trevisan na flauta, Ana Cláudia César no cavaquinho, Paola Picherzky no violão e Míriam Capua na percussão.

Por Samuelita Santana | Mimos Home mimoshome.com.br

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Que vó é essa ? Vovolícia!

Das meninas aqui da Mimos eu sou a única avó. E como sou daquelas avós que nem parece vó, toda “trabalhada” nas modernidades e acompanhando de “boas” o ritmo desse novo tempo, antenada, ressignificada (só pra usar uma palavrinha bem da hora 😊, que nem gosto tanto), sempre com o pé na estrada, dirigindo meu carro, mudando planta de lugar, malhando pra caramba, profissionalizando e tomando meu pileque, fui então batizada de “vovolícia”. Que delícia!!

O termo inventado pelo sobrinho e diretor de cinema Diego Claudino, um cosmopolita astral que anda pelo mundo cinegrafando a vida, foi adotado pela galera toda de casa e eu adoooorei! Foi assim que Giulia, neta de 9 anos, decidiu me render cumprimentos num dos meus aniversários: um Coração vovolícia!


Giulia, que gosto de chamar de “giuleta malagueta”, surgiu surpreendendo todo mundo. Ô susto! Hoje, sem medo de errar e ser feliz, afirmo: Giu é a minha melhor parceira. É Claro que temos perrengues, atritinhos, chatices de vó e chatices de neta. Mas é com giuleta malagueta que vivo hoje os momentos mais divertidos.

E como moramos na mesma casa – eu, Blu e Giu – a gente tá sempre colada. Participo de tudo: escola, dança, apresentações, competições, sucessos, dúvidas, mudanças, deveres, estudos, pesquisas, choros, gargalhadas, piruetas, dormir, acordar, comer, assaltos à geladeira, hoooras de celular, broncas, gripes, febres, machucados, remedinhos, estórias, eventos, trolagens, papos e brigas de amiguinhos e muita energia pra gastar. 

Junto a gente faz de um tudo! Assiste filmes,  futebol, torce que nem loucas pelo Brasil, as duas coloridas de verde e amarelo, grita gooool na varanda pra o mundo inteiro ouvir, maratona séries, debocha uma da outra, dos outros também, ela arrasa com o meu inglês feião e eu me acabo de rir ouvindo ela me imitar, a gente come pipoca, eu com cerveja ela com suco de abacaxi, vai pro shopping, pra barraquinha do acarajé, pra delicatessen do lado comer bagaceira, pra sorveteria da esquina comprar picolé de limão que ela ama e o de côco que eu adoro, enquanto pelo caminho sou toda ouvidos aos relatos de cenas da escola, ou de mostras dos videos super legais e engraçados que ela editou.

Enquanto cozinho ela ama amassar a batata para o purê e petiscar as carninhas salgadas que preparei pra o feijão. Somos o mesmo paladar e não à toa adoramos assistir os masterchefs da TV, grudadas, salivando e inventando pratos pra matar a fome. Nem que seja um prosaico ovo, cozido na hora. Quanto a mim, vira e mexe solicito a ajuda dela pra destravar o ipad, ativar o Chromcast ou me ensinar a usar aquela bendita ferramenta nova do instagram. Óbvio que sem escapar de ouvir a clássica recomendação: “Vó, vó, você precisa ser mais tecnológica!” haha. Nem sabendo ela das tentativas e erros pra aprender usar e aplicar malditas ferramentas virtuais da plataforma X ou do aplicativo Y. Ó Deus!


E assim seguimos nessa interessante simbiose, construindo uma relação cheia de trocas e aprendizados. Ela é aquela neta, bailarina, que faz questão de me ver na plateia quando sobe ao palco pra dançar. Eu sou aquela avó, jornalista, que aparece no áudio estragando sem constrangimento o vídeo do balé, aos berros: “Dá-lhe Giulia! Vai Giu! Linda! Arrasa! Perfeita!”🤗

Voa Giulia!

#MIMOSDICA: Seja lá o dia que for e qual seja o estilo da sua vó – moderninha, recatada, agitada, dinâmica, caseira, executiva – ela vai simplesmente #amar acordar e enfiar esses fofos nos pés pra andar pela casa. Ô delícia! Confira na Mimos Home

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Gourmeria saudável pintando no blog

O sonho de consumo do mundo moderno gira cada vez mais em torno da alimentação saudável. Todo mundo quer – mas nem todos conseguem – ter ciência e exibir aquela “educação alimentar” que mata de inveja 10 entre 10 brasileiros. Mas as tentações não cessam e invadem nosso dia-a-dia em sedutoras imagens, cheiros, sons e sabores mil. E lá vai o vaca pro brejo. E depois pro prato! Afinal, tudo é meta, determinação, disciplina e resultado.

Mas enquanto a bendita reeducação alimentar não cria poderosas raízes em forma de rabanetes, inhames, beterrabas, gengibres e outros tubérculos, a gente bem que poderia reduzir aqui e ali o estrago e se permitir experimentar vez em quando as dicas pra lá de práticas e saborosas de quem já passou pelo funil da abstinência, aprendeu que o radicalismo não é bom – nem saudável – e hoje encara “de boa” comidinhas mais naturais, mais nutritivas, feitas em casa de forma simples, barata e rápida.

Sabor, cor e saúde

E a dica da Gourmeria saudável para o Mimos Blog pintou por acaso durante uma conversa com a arquiteta Nildes Tolentino que deixou escapar as suas preferências por alimentos naturais e como esse hábito foi ganhando formas, conquistando o paladar e se consolidando definitivamente na vida da família. Sua cozinha agora tem cara e cheiro de horta, é mais natureba, mais prática e muito saborosa.

Sempre pesquisando boas práticas alimentar, as bondades e maldades dos alimentos, lugares confiáveis pra comprar produtos saudáveis e baratos, Nildes foi virando uma expert no assunto, mas se mantendo longe das chatices radicais. Sim, ela se permite, quando a circunstância exige ou simplesmente pinta aquela vontade de comer e beber umas “bagaceirinhas” deliciosas, mesmo que aquele prato ou guloseima não se enquadrem com perfeição no padrãozinho dito saudável. Só pelo prazer mesmo e sem problemas de consciência! Tenho bastante crédito”, brinca.

Agora se ligue nessa sugestão de almoço delicioso, prático de fazer e montar que Nildes enviou pra gente. Que tal experimentar?

Salada fresca com purê de banana, quiabo e tilápia cozida

Uma salada de brotos de girassol, rúcula, cenoura e pedacinhos de ricota. Pra acompanhar, quiabos cozidos no vapor, purê de banana da terra e uma posta de tilápia cozida. Você pode temperar tudo ao seu gosto com sal, pimenta, fios de azeite extra virgem e gotinhas de limão, pra quem gosta. Para potencializar o sabor do purê de banana, Nildes acrescentou pimenta branca e açafrão. Você pode fazer o mesmo, Meu Deus, que delícia!!! E pra sobremesa? Que tal essa Gelatto de manga com hortelã? Fechou!

Uma delícia de sorvete de manga com hortelã.

#MimosDica: Que tal aproveitar essa ondinha natural e plantar ervas frescas e temperinhos nesses vasos rústicos lindos de cerâmica, com relevos rendados, da Mimos Home?

Por Samuelita Santana | MIMOS HOME mimoshome.com.br

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Nossas Escolhas nos definem

Por Eliude Radice

Fiz uma escolha arriscada. Mudei de país, mas aqui dentro do peito ficaram crenças, valores, amores. Porém muitas vezes me pego em cima do muro a observar que com o tempo, a pessoa que eu era quando cheguei foi-se lentamente diluindo, absorvendo, fundindo-se com novas certezas e incertezas e, da mesma forma, com muitos laços que ficaram para trás. De cima do muro me pergunto: quem sou eu? A vida seguiu. O tempo passou, não pertenço nem lá nem cá. Quero o estar aqui e o estar lá. E agora, a qual lado pertenço?


No começo tudo é novo, belo, desafiador. Trocamos a casa de tijolos por uma casa de palha. Frágil e cheia de incertezas. Fácil de se desestabilizar com o vento, fácil de cair com o balançar da alma, que enfrenta o que é novo todos os dias. E quando a saudade deixa de pressionar e passa a doer, começa-se a ver a nova casa com pesar, sob as lentes frias da realidade. Questiona-se as escolhas que se fez, o temor de que as consequências sejam difíceis de se suportar.

Tenho que ser forte. Tenho que ter sucesso. Tenho de estar feliz. E assim, somos pressionados por essas forças invisíveis que batem desconfortavelmente em nossas costas mas que te empurram para fora da “placenta”, nascendo ali um NOVO SER que já aprendeu a existir no novo lugar. Não quero mais voltar. Mas de cima do muro ainda me pergunto: mas onde é o meu Lugar? 


As referências mudam e torna-se mais complexo encontrar a personalidade do novo ser, no novo lugar. Precisamos de referências, rotinas, estabilidade, convívio. Em busca de preenchimento dessas lacunas internas, nos moldamos aos poucos como um novo ser. Um novo tijolo na personalidade se acrescenta a cada dia, a cada experiência vivida. E quando buscamos conforto visitando o lugar de onde viemos, mais uma inquietude: já não pertenço mais a esse lugar. Os lugares que tanto senti saudades não estão mais lá, as pessoas não são as mesmas, os cheiros, as cores, os sabores, não são os mesmos que sentia antes. Colegas de faculdade, os amigos de farra na sexta-feira depois do trabalho… hoje não existem mais.

Não adianta tentar recriar o passado no presente. Passou. A vida por lá seguiu e sente-se saudades do que já não existe mais, sente-se saudades do passado. Mudamos de país mas não continuamos a mesma pessoa. Não podemos. A vida, na sua preciosidade de contornos, nos coloca nessas situações. A vida sempre nos dá o melhor e só percebemos que era tão bom quando já não temos mais. Independente das escolhas que façamos, o caminho não percorrido sempre nos parece mais interessante. E isso nos faz distanciar do sabor do presente. 


Mas são experiências que valem a pena. O desconforto da escolha nada mais é do que uma sacudida para sairmos da nossa zona de conforto e nos aventurarmos a olhar um cenário mais amplo da vida que vai moldando silenciosamente a nossa personalidade. O renascimento da personalidade acontece a cada dia, seja mudando de país ou não. Somos seres inevitavelmente mutáveis e essa virtude humana que nos confere tamanha inquietude diante da vida, nos transforma em tudo o que somos.

Não existe nada mais belo do que vivenciar o caminho que escolhemos percorrer, e desfrutar de cada minuto, a cada passo. Muitas vezes esse caminho é pontilhado de pedregulhos e tantos obstáculos, mas hoje, olhando no espelho com os olhos da alma, constato que consegui superá-los pois aqui estou eu, com minha bagagem na mão, continuando a viagem em direção a novos rumos.


Mas e agora quem sou eu? Eu sou um ser em construção. Recolhendo tijolos pelo caminho e alinhando minhas estruturas. Vivendo cada experiência para que minha mala cheia de memórias seja leve quando eu não tiver mais nada, a não ser a opção de carregá-la comigo.

Eliude Radice é escritora, mora em Milão há 28 anos e é casada há 21 com o italiano Angelo Radice. O casal, que não tem filhos, aproveita todo o tempo livre pra viajar, conhecer novas paisagens, cenários, revisitar os lugares que ama e apreciar a boa gastronomia de restaurantes referenciados, belos drinks e também aqueles lugares simples, bem caseiros, onde se “mangia” aquela suculenta e tradicional pasta italiana.

Obras Pubicadas: O Último dia do Planeta terra ( Edição em português esgotada) | Deus é Quântico e está no DNA – Revelações ( Editado em português e em italiano – Dio è quantico ed è nel DNA – Rivelazione) | Dietro il Sipario – Raccolta ( Edição em italiano) | Il cavaliere delle nibi (Edição em italiano)

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Os fofos estão chegando

Já imaginou você saindo da cama e enfiando os pés nesses fofuchos macios e lindos de viver? Pois acredite! Eles existem em variadas cores, tamanhos, tons misturados, bicolores e daqui a pouquinho chegarão com exclusividade para a Mimos Home.

A criação é da designer Lidia Cruz que escolheu o ponto queridinho dos apaixonados por artesanato: o crochê. Trend para o Verão 2019, o crochê volta à cena esbanjando seu arzinho boêmio e romântico. E esses chinelinhos caseiros de Lidia Cruz, nasceram pra você começar o dia leve, pisando macio.

Fofos e branquinhos
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Dê um tempo… e corra pro abraço!

*Por Damáris Santana

Entro no elevador e encontro um vizinho de prédio. Constrangida por ele sempre lembrar meu nome, eu pergunto, afirmando que não vou mais esquecer: como é mesmo seu nome? – “Janilson Carlos, geólogo aposentado, velho! Marido de Tereza, professora. Pai de Clovis e Ana.”

De cabelos e barbas quase todos brancos, aquele senhor sempre me encantou com palavras acolhedoras. E dessa vez não foi diferente. Em tempos de cabeças baixas, olhos fixos em aparelhos celulares e grunhidos como cumprimentos, encontrar quem te olhe nos olhos, sorria e (pasmem!) converse, parece soar, no mínimo, estranho. Mas não é!

Estranhos nos tornamos nós! Esquecemos valores simples e achamos que relações se constroem com bytes! Não estou subestimando a tecnologia, de maneira nenhuma, mas quero enaltecer o equilíbrio! Explico: ganhei um celular novo e ativei a notificação de tempo de uso. Fiquei chocada comigo mesma! Quanto tempo perdido desnecessariamente… Então eu ME estipulei quais aplicativos poderiam ser usados, em que horários e por quanto tempo. Tem dado certo. Hoje eu dialogo mais, abraço mais, oro mais!

Se deixei de usar meu celular? Não! Se parei de publicar nas redes sociais? Não. Acho que posto até mais, só que em menos tempo!

Na real, se permita beijar mais, abraçar mais, sorrir mais! Sua vida será mais leve e Deus atuará através de você!

Ah! Sr. Janilson Carlos? Saímos juntos do elevador e, na rua, fizemos o mesmo caminho por um bom tempo. Ele me contou sobre sua memória e a época que ele era professor, mas isso fica para outra postagem…

Os nomes foram trocados para preservar a identidade das personagens.

*Damáris Santana é jornalista e mãe de duas meninas




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Você aqui é sentimento, história e voz

As histórias, os relatos, as experiências, as rotinas, as fatos e destaques que permeiam nosso dia a dia podem muito inspirar outras pessoas, motivar, alertar ou divertir. Então a gente pensou que esse espaço no Mimos Blog não poderia de jeito nenhum ser desperdiçado. Sim, temos uma lojinha e claro que queremos mostrar pra vocês como nossos produtos são fofos, charmosos e podem contribuir pra decorar sua vida. Mas seria só isso? Mulheres inquietas que somos, na batalha diária pela vida, pela sobrevivência, pela realização de projetos, sonhos e na luta incansável contra limitações e preconceitos, não poderíamos usar um espaço interativo e valioso como esse apenas pra enfeitar a vida!

Lá atrás, quando começamos, decidimos ter um valor e uma missão: respeitar e inspirar pessoas. E as pessoas são o mundo. E aí a gente vai percebendo ao longo do caminho que o desafio de cumprir o que a gente prometeu passa justamente pelo interagir e compartilhar todas essas ideias, sentimentalidades e ações com o mundo que somos nós, as pessoas. E que essa missão, portanto, é bem democrática e coletiva. Por isso convidamos você – mulheres, jovens, balzaquianas, maduras – a dividir com a gente aqui no Blog a alegria de motivar a vida.

Você tem uma dica, um relato interessante, uma história inspirativa, sugestões, uma conquista, uma reflexão? Que tal compartilhar com a gente e com outras pessoas nesse espaço lindão e bem editado que é o nosso Blog Mimos? Sua voz, o que você pensa e diz importa pra gente. E o bacana é dividir isso. Agora pegue ar, pegue o tom e solte sua voz bem AQUI . Vamos criar juntas essa canção de mimar. E os companheiros, os meninos, podem? Claro que sim. A única coisa que a gente não quer por aqui são vozes polarizadoras destoando e dividindo nosso afinado coral. Né não?

*Pense, escreva, fotografe, desabafe, conte. Depois mande tudinho pra gente editar. Anote o contato e envie sua primeira voz: mimoshomecontato@gmail.com

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Sou mistureba, sou boho, sou bem eu!

Conversando um dia desses com uma cliente aqui da Mimos viajei com ela numa dúvida bem comum. Ela adora fazer aquela mistureba em sua decoração utilizando peças que lhe agradam e lhe despertam a atenção pela beleza ou alguma outra boa sensação. “Não me preocupo tanto com estilos, tendências. Gosto de olhar pra aquele cantinho, pra aquele espaço e sentir conforto e beleza”, comentou enquanto questionava se seu “gosto” era duvidoso.

Fiquei matutando com meus botões e mesmo não sendo especialista em design de interiores, nem consultora de decoração nem nada, concluí que nossa cliente Binha, como gosta de ser chamada, tem um estilo decor super em alta e nem sabe. E, na verdade, nem é tão importante saber e ter uma específica definição se o que importa mesmo no ambiente em que se habita é o sentimento de identificação, paz, conforto e aconchego. Né não?

Nessa nosso papo reflexivo mostrei a Binha alguns cenários garimpados na net bem no estilo BoHo (bohemian), despojados, cheios de improvisos, inspirações, misturas de estilos, texturas e cores. Sem regras e preconceito zero, o Boho pode mixar o étnico, o vintage, o boêmio, o romântico, o retrô, o hippie, o moderno o country e outros mais, permitindo-se a liberdade de ser o que quiser. Tudo vai depender da atitude, do gosto e da personalidade do dono. É é justamente aí que reside a harmonia, a elegância de ser boho.

Binha simplesmente adooooorou conhecer esses detalhes! Deu um estalo de mão e me saiu com essa: ” Sou Boho , sou moda, sou tendência e nem sabia!”. Haha! Ela garantiu explorar outras ideias bohemians pra suas próximas investidas decorativas! Mesmo sabendo que o que vale é se identificar e estar de bem com o lugar onde se vive, a gente ficou super feliz em sossegar as inquietações da nossa parceira e mostrar algumas alternativas que também fazemos questão de compartilhar aqui com vocês.

Inspire-se nesses lindos cenários Boho e improvise o seu. Caso queira! Vamos começar com o cantinho bohemians da nossa cliente Binha. Aqui ela se aconchega, ama e é a sua cara! Os pufs são da Mimos Home: https://www.mimoshome.com.br/moveis/puffes

Misturar influências é democrático!

A expressão boêmia vem de Bohemia, uma região histórica da Europa Central onde seu moradores eram conhecidos por não aceitarem as regras rígidas impostas pela sociedade da época. São os “boêmios” ou ciganos. Essa é a maior influência do estilo Boho, que inclui ainda o jeito rústico de viver dos hippies dos anos 70.

O Boho é versátil, desestruturado e vivo!

O inusitado e a ousadia do Boho

Por Samuelita Santana | Mimos Home

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Manjericando a vida

Eu sou dessas, que adora cozinhar. Mas atenção: sem aquela obrigação diária, mas sim como uma daquelas tarefas prazerosas que a gente faz tomando uma bebidinha, batendo papo, pensando em boas coisas e viajando em boas lembranças. Por aí. Tudo muito caseiramente. Acontece que depois dos masters e tops chefs da vida – que a gente amaaa assistir, salivando e morrendo de vontade de “cometer” e provar aqueles pratos -, a ideia de cozinhar parece ser algo, assim, bastante conceitual e elaborado. #Sóquenão. Na verdade acho mesmo que cozinhar é pura sensibilidade e intuição. Aliadas naturalmente a alguns segredinhos que a gente vai inventando ou herdou das nossas maiores referências em cozinha: mãe, vó ou mesmo aquela cozinheira de mão cheia que a família tinha em casa.

O bom é que quase sempre esses tais segredinhos estão sempre relacionados a temperos e ervas. Ah! As ervas! São elas as mais delicadas e ao mesmo tempo as mais vigorosas fontes de sabores e cheiros que fazem qualquer prato ganhar glamour e potência. Então, como nós aqui da Mimos somos três mulheres, sócias e irmãs que adoram fazer invencionices na cozinha, decidimos garimpar algumas ervas e dicas de como e onde usá-las não só pra aromatizar, mas também pra dar poder e beleza aos seus pratos e petiscos. Isso sem falar que além de baratas as ervas frescas são facilmente encontradas em qualquer mercado.

E como as ervas frescas – ou secas – além de evidenciar sabores e perfumes possuem poderes medicinais, você terá ainda uma boa chance de esbanjar ciência e compartilhar boas práticas de saúde com seus amigos e convidados. Que charme!

Quer potencializar os poderes das ervas naquele encontrinho com os amigos? Então veja aqui quem são as “poderosas” e saiba como fazer delas uma festa no paladar dos seus convivas:

Manjericão: Muito usado na cozinha italiana o manjericão é uma delícia de erva da Provence, região sul da França, assim como o alecrim e o tomilho. Tem sabor forte e pode ser usado em assados, peixes, queijos, geléias. Melhor combinação? Com molhos de tomate e massas. Salpicado numa tábua de frios fica simplesmente divino! E pense nas suas propriedades: alivia a tosse, é anti-estresse, melhora o sistema imunológico é é bom para a visão.  

Alecrim: Ideal para aromatizar carnes variadas. Funciona muito bem com frango assado, rosbife, cordeiro e em marinados para carnes de caça. Fica bom também tostado junto a frutas secas, amêndoas, castanhas, ou nozes. Seu perfume cai pra lá de bem em sopas, batatas cozidas, pães e molhos de tomate. E olha só: combate enxaqueca, reduz dores reumáticas e articulares.

Hortelã: Pense no frescor de uma salada com hortelã. E nos drinks e sucos? É só jogar suas folhinhas lindas e refrescantes nas bebidas ou em carnes como cordeiro, legumes, canapés e até em misturadas com frutas e chocolate. E ainda faz um bem danado à saúde: combate a fadiga, problemas no fígado e é excelente para a digestão, combatendo os gases.

Que alegria! Que sabor!

Coentro: O coentro abre o apetite só em sentir seu cheiro. Herança cultural dos africanos essa erva é muito utilizada na culinária nordestina, principalmente na baiana, em suas moquecas, bobós e peixes em geral.  Também dar poder a qualquer prato com o aroma de suas folhas salpicadas entre petiscos, batatas cozidas na manteiga e outros canapés. E quer saber? Um santo remedinho pra ansiedade.

Salsa ou Salsinha: Ah! Uma erva universal super-resistente – aguenta por até 3 meses quando congelada. É a que mais dura dentro da geladeira -. Sabor levemente picante para encher de vida e brincar de verde com os canapés, sopas, saladas, carnes e molhos. Experimente picar a salsa bem fininha e finalizar os pratos na hora de servir. Show! Sem falar que é anti-inflamatória, combate a anemia e reduz a pressão arterial.

Erva-cidreira: Também chamada de melissa. Reconhecida pelas propriedades calmantes do seu chá. Mas pode ser usada para marinar carnes e saladas e ainda dar sabor a bolos e sobremesas.

Orégano:  Para quem gosta! Já que seu sabor é forte e concentrado, é um tempero natural para qualquer prato. Se usado com moderação o orégano combina com quase tudo. É excelente para molhos, queijos, carnes, ovos e sopas de legumes. E quem diria? O orégano melhora a saúde do coração, reduz dores musculares e regula a menstruação.

Cebolinha verde: Essa erva não aguenta temperaturas. Então o ideal é usar momentos antes de servir decorando pratos. De origem europeia pertence à família do alho, do alho poró e da cebola. Experimente cortar miudinha e salpicar em caldos, sopas e entradinhas liquidas. E olha aí a dica: cebolinha atua na prevenção do câncer, fortalece os ossos, limita danos neuronais e ajuda contra o Alzheimer.

Sálvia: Também de origem mediterrânea a sálvia pode ser usada em ensopados de carne como porco, pato, coelho, carneiro. Sempre fresca essa erva é como alma para massas recheadas com vitela ou abóbora. Se for servida ao molho de manteiga então… dos deuses! E mais: alivia cólicas, trata depressão, insônia e perda de memória. Curar resfriados fortes, tosse e dores de garganta.

Tomilho: Sabor quente e aromático, da família da menta. Mesmo seco não perde o seu perfume. Combina com frango, carne vermelha e cai muito bem salpicado em pratos com tomate ou queijo. E olha só: é rico em vitamina A, C, ferro, cálcio, magnésio, potássio e fibras. E mais: previne o envelhecimento, ajuda a emagrecer, protege olhos e ossos e combate a depressão. Vamos comer tomilho!

#MimosDica: Nossa dica de petisco vai pra uma simples e deliciosa Bruschetta que impressiona:  * Torradinha pronta ou feita em casa com pão dormido, coberta com uma boa rodela de tomate fresco, bem vermelho e lindão. Jogue por cima folhinhas de manjericão fresco. Pronto! Tudo coberto com bons fios de azeite de oliva extra virgem. Gente que delííííícia!

#SeLigue:  Use as ervas após a preparação do prato. Isso porque o calor pode prejudicar a sua beleza verde e o seu delicioso aroma.

Por Samuelita Santana | Mimos Home

O medo de opinar

Li um artigo essa semana em que o autor fala do cenário “apocalíptico” que paira no mundo hoje e, da possível caminhada da humanidade rumo à uma zona sombria e de trevas. Até parece contrassenso falar em “era das trevas” num mundo tão tecnológico, cheio de modernidades e acesso global. Mas, fiquei matutando sobre algumas abordagens que o autor faz, como a que releva a infestação de justiceiros sociais cuspindo ódio, narrativas ideológicas, fundamentalistas, teorias conspiratórias e bizarrices nas mídias digitais, além da que destaca o volume infinito de informações disponíveis no ambiente digital, causando ansiedade, frustração, sensação de distopia, de não pertencimento e ainda gerando mais erro que conhecimento confiável. Uma cadeia ininterrupta e interminável de dados e interpretações, confusa e principalmente danosa para as jovens mentes em formação, ávidas por verdades, coerências, abrigos seguros e caminhos que lhes tirem do caos.
Todo cuidado é pouco, porém, quando se trata de classificar cenários e contextos com rótulos estereotipados, reforçando no imaginário coletivo uma configuração distorcida da realidade. Assim como lá na Renascença do século XVIII os intelectuais, conhecidos como iluministas, trataram a Idade Média de forma simplista e preconceituosa, insistindo em classificar o período como a “era das trevas”, hoje também, nesse mundo político de polarização extrema e raivosa, lançar mão do “retorno das trevas” utilizando um pensamento histórico incorreto, é explorar de forma abusiva um conceito que serve apenas de retórica política, alimentando falsas narrativas para esse ou aquele viés ideológico.
A expressão “estamos de volta à Idade Média” se tornou lugar comum, especialmente no eco das chamadas vozes progressistas – tanto na política como na imprensa – numa tentativa de carimbar com o rótulo de medieval o que consideram tradicionalista, conservador ou até religioso. Mais que uma comparação, trata-se de um julgamento preconceituoso baseado em dois erros elementares: o primeiro deles é a visão equivocada sobre a Idade Média, distante da realidade histórica; o segundo se encontra na gênese dos pensadores iluministas que – assim como os progressistas atuais -, se arrogavam donos e herdeiros da ciência, da cultura e da modernidade, despejando na Idade Média tudo o que consideravam fanático, irracional e obscuro.

Ferrenhos opositores da antiga tradição e da dominação política, econômica e cultural da igreja Católica desse período, os intelectuais renascentistas jogavam no colo da Idade Média o tempo da escuridão, das sombras e das trevas. Uma preconcepção negativa que se espalhou com sucesso na Europa do século XVIII e entrou definitivamente na mente popular. Com visão carregada de eurocentrismo, esses pensadores ignoraram por completo o resto do mundo e não enxergaram os avanços que aconteciam por exemplo no Império Islâmico, nas Américas e até na China. Sequer perceberam a difusão do conhecimento com a criação de escolas e universidades, além do desenvolvimento tecnológico na agricultura, no artesanato, na matemática e na astronomia, evoluções que possibilitaram a expansão marítima e a descoberta de ricos legados de sociedades americanas, como os maias, os astecas e os incas. 

Foi a partir do século XIX que esse entendimento começou a ganhar novos rumos, através de trabalhos históricos produzidos por estudiosos e também pelo surgimento do Romantismo, movimento artístico que resgatou importantes elementos medievais. Luzes que mostraram, inclusive, que o próprio Renascimento foi uma evolução de tudo o que foi concebido na Idade Média. Restringir, portanto, um período de quase 10 séculos, ou seja, cerca de mil anos, a um tempo de trevas, atraso e retrocesso e ainda associá-lo de forma depreciativa a contextos obsoletos é, no mínimo, cegueira histórica. 

Pode-se dizer que o argueiro que impedia os iluministas de enxergarem além dos muros do próprio saber, é bem semelhante a trave que cega os que se dizem hoje “iluminados”. São os extremistas contemporâneos que povoam os ambientes políticos, as redes digitais e os mass media, intimidando, patrulhando, cerceando e ridicularizando posicionamentos diferentes dos seus. Autodenominados guardiões das igualdades sociais e das liberdades democráticas, esses grupos ideológicos usam a defesa da democracia para cometer a mais abusiva, fascista e antidemocrática ação contra o indivíduo: a de atacar o seu legítimo direito de pensamento, escolha e expressão.

Colocando-se sempre num pedestal de intelligentsia e superioridade intelectual, os “iluministas” da atualidade tratam com desprezo e deboche os segmentos tradicionalistas e todos os que defendem a filosofia social do conservadorismo, rotulando-os de reacionários, fascistas, quadrados, retrógrado maléficos e ditadores. E ao colocá-los com selvageria nesse lugar, insistindo na cultura do cancelamento, da destruição de imagens e de reputações, essa tropa guiada – porque cega – vai tocando o terror no íntimo da sociedade, gerando um sentimento de pavor, inadequação, temor de ser reprovado, não ser aceito e, pior, silenciando com a mordaça do medo posicionamentos e opiniões que poderiam ser de grande relevância no ambiente em que fossem postos.

A patrulha fascista que ameaça, amordaça e afasta os jovens do exercício da cidadania e dos debates político-sociais

O medo de ser aniquilado, troçado, devastado por opinar ou se posicionar é o que se pode chamar de a verdadeira treva. Sob esse ponto de vista, estamos, sim, adentrando no manto sombrio da escuridão, criando uma geração inteira de jovens intimidados, confusos, sem compreensão das ferramentas reais que conectam o seu passado e o seu futuro. Jovens que, com raras exceções, abominam o exercício da cidadania política, se afastam cada vez mais dos debates público-sociais e mergulham, em fuga, no mundo fictício das banalidades virtuais. 

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com BAHIA ECONÔMICA | BAHIA JÁ | GAZETA DOS MUNICÍPIOS | DIGA BAHIA | NOTÍCIA CAPITAL

Sobre sentimentos, pandemia e flores

Um maço de flores bateu à minha porta. O olhar divertido por trás da máscara do entregador tentando captar as emoções da surpresa, me advertiu de súbito que eu não deveria de forma alguma pronunciar a frase que quase escapa da boca: “são pra mim?”. Não, eu não disse isso. Apenas agradeci e esperei gentilmente que ele se dirigisse ao elevador enquanto fechava com toda a educação possível a porta. Exibi então pra mim mesma toda a surpresa contida enquanto olhava para o belíssimo buquê de flores frescas e coloridas, ao mesmo tempo em que vasculhava pelo ambiente um vaso apropriado para acolhê-las. Procurei entre as flores qualquer indicação do remetente e vi um delicado cartão azul turquesa preso à folha transparente que embalava as flores. Saquei rápido e me deparei com uma curta frase: “Que esssas flores possam colorir seu dia, perfumar o ambiente e suavizar as horas sombrias dessa pandemia”. “Jesus!- pensei – que coisa bacana”. Revirei cartão e envelope e nem um traço sequer do remetente. Remexi de novo e com cuidado as flores e nada estava lá além da lindeza delas. Quem será que me enviou essa perfeição? Me perguntava intrigada. Até finalmente decidir que deveria desistir de questionar e curtir o presente tão esplêndido e bem vindo.


Há quase uma semana desse epsódio, ninguém apareceu para assumir as flores. Fato que me fez pensar profundamente sobre os sentimentos, impactos e gestos que nos cercam nessa pandemia. “Al de lá” dos pavores, dos medos, da tristeza pelos tantos mortos, das polêmicas e dos furores que essa crise sem precedentes nos traz, o que nos resta e o que ficará impresso em nossas vidas quando tudo isso passar? Sim, porque vai passar. Tentei fazer uma viagem ao meu redor para entender os meus próprios sentimentos, reações, sensações, rotinas e adaptações. Nada parece como antes. Há uma certa paralisia instalada e a impressão é que o vigor da vida foi cancelado ou ficou preso em algum lugar lá fora. Sim, há o brado retumbante, inclusive dentro de mim, dos que não se dão ao luxo de desistir, deprimir, se abater, jogar a toalha, essas coisas. O mesmo brado que nos acorda e nos faz olhar pela vidraça quando o dia amanhece e constatar, de fato, uma lenta mas real pulsação acontecendo lá fora. Os carros passam, as janelas se abrem, os negócios reiniciam, as crianças choramingam, os vizinhos conversam, tilintando pratos e talheres.

Flores bateram à minha porta perfumando o meu dia e reforçando a minha fé na humanidade

Mas há uma certa tristeza, sim, estabelecida no ar. O silêncio dos que já não podem se fazer ouvir nos golpeia, abate. E aquele céu azul que faz lá fora já não é um convite para sair e celebrar a vida. Fico refletindo e me perguntando se essa não seria, além do sentimento de tristeza pelos que partiram, a sensação responsável pelo estado de prostração que às vezes nos domina e esgota. Dessa mobilidade que a vida sã nos oferecia, independente do dia, hora ou lugar e que a pandemia nos tolheu.Todo santo dia era dia de sair e viver. Hoje, com um pouco mais de mobilidade em relação ao pico da crise, mas ainda isolados, evitamos prudentemente absorver a vida. Em nossos casulos e células, buscamos da melhor maneira possível reinventar rotinas, modos de fazer, produzir e tocar o barco. Mas, como seres sociais que somos, finalizamos o dia com uma certa sensação de vácuo, adiamento e inadequação. Faltou o quê? Me pego não raras vezes questionando. 
A estranheza só aumenta quando passamos a focar longos momentos do dia observando a vida ativa, produtiva, animada e veloz que exibe-se tão fluida nos posts das redes sociais. Parece até que nós, e apenas nós, estamos fora do circuito, um tanto embotados, aquebrantados e sem ânimo para intervir tão ativamente no mundo, frutificar, ofertar, abundar, motivar, criar. É como uma janela que se abre irrompendo um mundo paralelo, fictício, irreal. Mas do lado de cá, do lado diário de cada um, as sensações de cansaço e abatimento, os sentimentos de perda, insegurança e perplexidade, os arroubos de raiva e inconformismo são reais e estão bem ali, dentro e perto de nós. Emoções que inquietam o sono e nos fazem pensar sobre o dia seguinte, sobre a rotina inventada e melancólica, sobre o sonho de quando, enfim, se fechará a cortina do “novo normal “, nos levando de volta à “coxia” segura da normalidade perdida, ao “velho normal” que a pandemia levou e que, na verdade, já não nos parece tão ruim assim.


Naturamente são sentimentos e sensações que captam a todos nós, no mundo inteiro, com maior ou menor intensidade e a depender do dia. Podemos até ficar imune ao vírus, mas dificilmente ficaremos imunes ou indiferentes aos infortúnios, contratempos e impactos que ele traz, as marcas que deixou pelo caminho, as mudanças que causou. Por mais otimistas e dinâmicos que sejamos. Há, sim, os que se abatem mais. E os que se abatem menos. Há os que entre um sentimento e outro, entre um dia e outro, levantam ofensivos, pelejadores. E de fato reagem, progridem, motivam. Assim como a pessoa que me enviou flores, apenas para embelezar, perfumar e suavizar o meu dia. São gestos que brotam em meio ao furor de uma pandemia politizada, provando a singeleza, a sensibilidade, a exuberância da vida e a empatia do ser humano. Assim como o sol continua a nascer e se pôr, todos os dias cumprindo religiosamente o seu papel, gestos assim, como o das flores, reafirmam a nossa fé na humanidade.

Por Samuelita Santana | @samuelitasantana | samuelitasantana@hotmail.com
Texto dedicado a você, amigo ou amiga que me abraçou em flores e perfumou o meu dia. Obrigada.